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#COP30

Belém, terra do povo Tupinambá, guardião de conhecimentos capazes de evitar as mudanças climáticas

Região amazônica foi densamente povoada há 11 mil anos por povos originários que detinham pleno conhecimento e domínio da natureza

2 NOV 2025 - 19H06 • Por Fabíola Sinimbú, Agência Brasil
Belém conta com 1.397.315 habitantes (IBGE/2025) e é formada por 42 ilhas, que representam 65% do território - Ricardo Stuckert/PR

Belém, capital do Pará, cidade que receberá a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) de 10 a 21 de novembro, já foi chamada Mairi. O lugar era o território do povo Tupinambá, guardião de conhecimentos capazes de fazer frente ao desafio global que hoje reunirá líderes de todo o mundo em busca de solução.

Segundo o historiador Michel Pinho, a história do território começou há milhares de anos. 

“Essa região da Amazônia, ao contrário do que foi ensinado por muito tempo, é densamente povoada há 11 mil anos. Existem pesquisadores, como [o arqueólogo] Marcos Magalhães, do Museu Emílio Goeldi, que comprovam uma intensa ocupação ao longo dos rios, lagos e igarapés”.

Entre essas ocupações, estava Mairi, ou o território de Maíra, entidade responsável pela origem do mundo e provedora dos segredos ancestrais sobre a mandioca, o açaí e tantas outras culturas ancestrais.

“Nós atribuímos a outros povos fora da Amazônia esse grau de desenvolvimento tecnológico e social, como os maias, astecas, incas, egípcios, mas os tupinambás também tinham pleno conhecimento e domínio da natureza. Você tem toda uma costa que hoje é o estado do Pará, partindo de Belém, ocupada por uma população que tem um profundo conhecimento em relação à pesca, em relação à cerâmica, em relação ao plantio”, destaca Michel Pinho.

Os estudos arqueológicos da região apontam que esses grupos eram grandes e adensados, podendo ultrapassar mil indivíduos em áreas de cerca de 2,5 hectares, segundo descreve Márcio Souza, no livro História da Amazônia.

“Os tupinambás colocavam a questão Mairi como um ajuntamento, como um grupo de pessoas. E no nosso caso, esse ajuntamento é plenamente explicável pelo fato de ele estar entre dois espaços geográficos fundamentais, que é o Rio Guamá e a Baía do Guajará. Então, você tem locomoção, você tem proteção e também tem alimentação”, explica o historiador Michel Pinho.

Por muitos anos após a chegada de colonizadores no Brasil, os tupinambás resistiram em Mairi, até a disputa entre franceses e portugueses por terras na região levar Francisco Caldeira Castelo Branco e uma tropa com mais de 100 soldados para fundar uma cidade e construir o forte que fosse capaz de barrar a ocupação do território por outras nações europeias.

Ribeirinhos da Ilha do Combú (Marcelo Camargo/ABr)

Como o capitão português Francisco Caldeira Castelo Branco navegou em janeiro de 1616 em direção a Mairi no período do Natal, logo após reconquistar o Maranhão dos franceses, decidiu renomear o então povoado colonial Feliz Lusitânia, local escolhido para construção do Forte do Presépio, de cidade de Nossa Senhora de Belém do Grão Pará (posteriormente ‘Santa Maria de Belém do Grão Pará’, até chegar à forma atual, ‘Belém’), às margens da Baía do Guajará e do antigo igarapé do Piry.

Os embates entre os tupinambás e os portugueses que seguiram após a chegada de Castelo Branco não foram capazes de apagar totalmente a ancestralidade de Mairi.

“Na verdade, essa ocupação Tupinambá é a prática cotidiana de milhares de pessoas até hoje. Então, a população que está na beira dos rios, a população que está nos campos do Marajó, tem uma relação direta com esse passado histórico, no sentido do cultivo do açaí, do cultivo da castanha, do consumo de peixe, do manejo da floresta. Esse passado, não está distante. Na verdade, ele está presente no nosso cotidiano”, ressalta o historiador.

Um cotidiano que resiste também na língua tupi, ainda presente no vocabulário de quem vive em Belém, seja na rua que homenageia os tupinambás ou na cidade vizinha Marituba, seja em palavras cotidianas como o carapanã, que permanece sendo a palavra usada para nomear o que o resto do Brasil conhece como pernilongo.

Palavras que farão parte do cotidiano de líderes mundiais ao longo de duas semanas em que terão a oportunidade de buscar inspiração nos povos que viveram por milhares de anos em harmonia com o meio ambiente sem causar qualquer alteração no clima.

“Eu acho que é uma relação até poética, porque você tem um passado que ensina o presente. Você tem um habitante da floresta que ensina que derrubar é a pior solução, você ensina que o cuidado das águas é fundamental para a existência, você ensina que o consumo consciente dos alimentos faz parte de uma sociedade que pensa no futuro. A COP30 precisa pensar que a sustentabilidade do planeta não está no futuro, ela está lá no passado para ensinar a gente”, conclui Michel Pinho.

Atualmente, enfrenta sérios problemas sociais, com mais da metade da população morando em favelas e apenas 17% com acesso à coleta de esgoto (Agência Belém)

Sérios problemas sociais

Belém conta com 1.397.315 habitantes (IBGE/2025) e é formada por 42 ilhas, que representam 65% do território. Ao longo de sua história, destacou-se como entreposto fiscal no século XVII, pela posição estratégica no comércio entre a Amazônia e a Europa. Atualmente, enfrenta sérios problemas sociais, com mais da metade da população morando em favelas e apenas 17% com acesso à coleta de esgoto. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) alcança 0,746, ocupando a 22ª posição entre as capitais brasileiras. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita chegou a R$ 22.216,33 em 2021, o 2.920º entre os 5.569 municípios do país.

Em 2018, Belém foi a capital brasileira com o maior registro de assassinatos violentos do país, obtendo uma taxa de 77 casos para cada cem mil habitantes, segundo estudo sobre os níveis de violência nos municípios brasileiros com mais de cem mil habitantes, utilizando informações de homicídios contabilizados no Ministério da Saúde.

Um dos principais atrativos naturais é a Ilha do Combú, banhada pelo Rio Guamá, uma Área de Proteção Ambiental (APA) e destino turístico amazônico na região insular de Belém, habitada por comunidades tradicionais que vivem de pesca, artesanato, turismo e produção de açaí. É acessada por barcos que partem com passageiros do Terminal Hidroviário Ruy Barata.

Com informações da Agência Brasil e Wikipedia.

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