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Atlas da Violência 2025

Os 20 municípios mais violentos do país têm, em média, 330 mil habitantes

Nessas cidades, consideradas de médio porte, a taxa de homicídio estimada de 65,4 é quase três vezes acima da média nacional

9 NOV 2025 - 16H33 • Por Douglas Corrêa, Agência Brasil.
Santana, no Amapá, com 107.618 habitantes (IBGE/22), continua sendo a cidade mais violenta do país (87,2), e a Prefeitura Municipal promove a Marcha das Josy's, caminhada anual com o objetivo de conscientizar a população sobre a violência de gênero  - Crisyiano Mendes/Prefeitura de Santana

A desconcentração da violência letal nas grandes cidades, com a interiorização do crime e o avanço das facções para médias e pequenas cidades do país, é destacada pelo ‘Atlas da Violência 2025 – Retrato dos municípios brasileiros e dinâmica regional do crime organizado’. O levantamento foi elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

O relatório evidencia dois motivos para esse fenômeno. “Em primeiro lugar, as cidades que eram mais violentas há 10 anos conseguiram reduzir a letalidade. Por outro aspecto, em face da interiorização do crime, muitas cidades menores passaram a vivenciar em maior número a violência letal”.

De acordo com o Atlas, as capitais como Fortaleza, São Luís, Goiânia, Cuiabá e o Distrito Federal registraram “reduções superiores a 60% nas taxas de homicídios entre 2013 e 2023”. Fato que contrasta com “o avanço da criminalidade e das disputas entre facções em municípios médios e interiores, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, que passaram a concentrar episódios de violência antes restritos às metrópoles”.

Diminuição dos homicídios

Mesmo com a ampliação territorial das facções criminosas, o levantamento mostra uma continuada redução dos homicídios no país, tendência que se observa desde 2018.

“Em alguns estados, o processo começou muito antes, como no caso de São Paulo, estado onde as mortes por causas violentas vêm diminuindo de forma contínua há mais de duas décadas”.

Expansão das facções

O relatório indica também que as facções criminosas estão presentes em todas as unidades da Federação, mas de maneira desigual. “Em alguns estados, a presença de vários grupos alimenta disputas territoriais intensas e letais, como ocorre na Bahia, onde atuam o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) em aliança com facções locais, como o Bonde do Maluco e o Comando da Paz”.

A mesma disputa por território ocorre também em Pernambuco, o estado abriga pelo menos 12 facções em conflito. Elas são responsáveis por impulsionar as altas taxas de homicídios no estado.

“No Amazonas e no Amapá, as guerras entre CV, PCC e organizações regionais, como a Família Terror do Amapá e o Cartel do Norte, têm provocado escaladas de violência em cidades médias e portuárias estratégicas”, aponta o Atlas.

Já em outras regiões, os conflitos por domínio de territórios são de baixa intensidade, revelando uma convivência relativamente estável entre grupos rivais. “É o caso de São Paulo, onde prevalece uma espécie de pacificação, resultante do domínio de mercados ilegais por uma única e poderosa organização criminosa, o PCC”.

O mesmo acontece também em Minas Gerais. O estado também “abriga diversas facções fragmentadas, mas com menor grau de conflito aberto, e Santa Catarina, cuja atuação do Primeiro Grupo Catarinense (PGC) ocorre em um cenário de violência mais controlada e pontual”.

Diversidade de estratégias

O Atlas da Violência 2025 também destaca o que chama de “diversidade de estratégias entre os grupos criminosos”. Segundo o documento, os grupos criminosos com “estruturas mais estáveis e voltadas ao lucro tendem a conter o uso da violência ostensiva, enquanto organizações menores e fragmentadas recorrem com mais frequência a confrontos armados para afirmar poder e manter o controle territorial”.

Infiltração em atividades lícitas

O levantamento alerta para o fato de o crime organizado se infiltrar em atividades produtivas lícitas e na gestão pública. Esse fenômeno, segundo o Atlas, “ameaça o Estado Democrático de Direito, com expansões na política, nas atividades produtivas lícitas e na gestão e contratos das administrações públicas. Essa expansão econômica e institucional das facções, segundo os autores, representa uma das faces mais perigosas do crime organizado contemporâneo”.

No caminho contrário dessa expansão do crime organizado, o relatório identifica avanços em políticas públicas qualificadas de segurança, que os do documento chamam de “revolução invisível na segurança pública”. “A partir da década de 2010, essa transformação tem englobado cada vez mais estados e municípios, combinando ações preventivas, qualificação policial e o uso de inteligência integrada”.

Dados de homicídios

Enquanto os municípios grandes (mais de 500 mil habitantes) tiveram, em 2023, taxa média de 23,6 homicídios por 100 mil habitantes, as cidades médias (entre 100 mil e 500 mil habitantes) apresentaram taxa média de 24,2 por 100 mil e as pequenas (até 100 mil habitantes) de 20 homicídios por 100 mil habitantes.

Os números mostram que os 20 municípios mais violentos do país possuíam, em média, população de 330 mil habitantes e uma média das taxas de homicídio estimadas de 65,4, o que é quase o triplo da média nacional. 

Por outro lado, a média das taxas de homicídio estimadas no grupo dos 20 municípios com menor letalidade era de 3,8. Portanto, comparando os 20 municípios mais e menos violentos do país, a prevalência de homicídio no primeiro grupo foi 17 vezes maior do que no último grupo – uma diferença maior do que aquela entre a taxa de homicídio do Brasil e da Europa, em que essa relação é de 10,4 vezes.

Em 1.548 (29,6%) dos 5.237 municípios classificados como pequenos, não houve nenhum homicídio estimado (registrado ou oculto). Entre os de tamanho médio, foram encontrados 10 com taxas acima de 60 homicídios por 100 mil habitantes. No outro extremo, 51 municípios médios apresentaram taxas menores de 10 homicídios estimados por cem mil habitantes. Já entre os 46 classificados como grandes, oito apresentaram taxas abaixo de 10.

Taxa de homicídio nos municípios com mais de 100 mil habitantes

O Atlas da Violência 2025 apontou o Amapá como a Unidade Federativa mais violenta do país em 2023. Não é surpresa, portanto, que os dois maiores municípios do estado, Macapá e Santana, constassem na lista dos 10 municípios com mais de cem mil habitantes com maior letalidade.

Enquanto Santana foi o município mais violento do país, com taxa de homicídio estimada de 87,2 por cem mil habitantes, Macapá foi o 10º na lista, com taxa de homicídio estimada de 67,5.

Os 20 municípios mais violentos do país possuíam, em média, população de 330 mil habitantes e uma média das taxas de homicídio estimadas de 65,4, o que é quase o triplo da média nacional.

Além do Amapá, um segundo destaque nesse grupo cabe ao estado da Bahia, que participou com cinco municípios na lista entre os 10 municípios mais violentos e participou com 10 municípios na lista dos 20 mais violentos do país. São eles (com respectivas taxas de homicídio estimadas entre parênteses): Camaçari (79,7); Jequié (76,3); Juazeiro (68,7); Simões Filho (68,0); Feira de Santana (67,7); Eunápolis (60,3); Salvador (59,3); Teixeira de Freitas (57,0); Porto Seguro (55,3) e Ilhéus (55,4). 

A lista dos 20 municípios mais violentos conta ainda com municípios dos estados do Mato Grosso, Ceará, Pernambuco, Maranhão, Paraná e Pará: Sorriso (MT) 75,8; Maranguape (CE) 70,3; Maracanaú (CE) 68,0; Cabo de Santo Agostinho (PE) 59,9; São Lourenço da Mata (PE) 58,1; Timon (MA) 59,7; Paranaguá (PR) 58,1; e Altamira (PA) 58. 

O primeiro município da região Sudeste a aparecer no ranking dos municípios mais violentos é Angra dos Reis (RJ), que, em 2023, tinha uma taxa estimada de homicídio de 47,9, configurando na 27ª posição.

Fonte: Atlas da Violência 2025 – Retrato dos municípios brasileiros e dinâmica regional do crime organizado

Com informações da Agência Brasil e do Atlas da Violência 2025.

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