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Apostas esportivas

Estudo da CNC estima que bets retiram R$ 117 bilhões do comércio

Entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros gastaram R$ 68 bilhões em apostas nas bets, o que representa 0,62% do PIB

25 NOV 2025 - 12H00 • Por Wilson Lopes
Os resultados do estudo mostram que o gasto com apostas on-line representam 0,95% do consumo total dos brasileiros entre junho de 2023 e junho de 2024 - Bruno Peres/ABr

Um levantamento produzido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) indica que as bets, como ficaram conhecidas as plataformas virtuais de apostas esportivas, podem gerar um prejuízo anual de R$ 117 bilhões aos estabelecimentos comerciais do país.

Os resultados do estudo mostram ainda que, entre junho de 2023 e junho de 2024, os brasileiros gastaram R$ 68 bilhões em apostas nas bets. O montante representa 0,62% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e 0,95% do consumo total no período.

"Cada venda que se perde no varejo custa mais que a própria venda. Porque existem custos fixos que não mudam. Se você estava acostumado a faturar R$ 1.000 por semana e, de repente, começa a faturar R$ 500 por semana, o impacto é maior que R$ 500. O seu quadro de funcionários, o seu estoque, todo o seu custo de capital de giro está programado para um volume de vendas. O que calculamos é que há uma perda potencial de R$ 117 bilhões ao ano se continuarmos com essa escalada de gastos com apostas", explicou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, em entrevista à Agência Brasil.

O estudo tomou por base o Balanço de Pagamentos, por meio do qual o Banco Central registra operações realizadas no país. "Na série de dados oficial, você consegue achar essa parte do gasto das famílias com essas bets", acrescenta Felipe.

O levantamento também alerta para o fato de que os gastos com as plataformas colocam as famílias em situação de inadimplência, afetando o consumo no varejo. 

A atuação das bets no Brasil foi autorizada pela Lei Federal 13.756, aprovada em 2018. Desde então, elas cresceram no país e vem investindo alto em publicidade, inclusive patrocinando clubes de futebol. De acordo com Felipe, a maior preocupação envolve as modalidades de cassino on-line, como, por exemplo, o Jogo do Tigrinho.

"As plataformas de apostas esportivas passaram a abrigar muitas modalidades de cassino on-line. E uma dificuldade é que a gente consegue levantar o valor das apostas em geral, mas não consegue segregar o que é aposta esportiva e o que é cassino on-line. Mas, olhando para o histórico, antes do Jogo do Tigrinho aquecer, os gastos giravam em torno de R$ 2 bilhões. E, com a explosão do cassino online, foi para R$ 68 bilhões. Dá para fazer uma estimativa grosseira de que pelo menos 80% dos gastos com as bets são gastos com alguma modalidade de cassino online", afirma.

Público feminino

Dados levantados pela CNC com o auxílio da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) também trazem um perfil dos apostadores. Chama atenção que os cassinos online mobilizam um público majoritariamente feminino. Já nas apostas com futebol, principal modalidade esportiva, são os homens que mais gastam.

Segundo a CNC, a popularidade do Jogo do Tigrinho com o público feminino é preocupante, porque pode indicar a possibilidade de impactos significativos do ponto de vista social, uma vez que benefícios sociais são pagos preferencialmente para as mulheres. 

Cassinos reais

Com base nos dados do estudo, a CNC apresentou uma ação indireta de inconstitucionalidade ao Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a regulamentação do mercado de bets no Brasil. Além disso, reiterou seu posicionamento a favor de "cassinos reais", isto é, aqueles em que as pessoas apostam presencialmente. Segundo a confederação, enquanto a modalidade on-line compromete a renda das famílias e impacta o varejo, os cassinos que possuem localização física geram emprego e renda nos países onde são regulamentados.

"É uma importante atividade para o desenvolvimento do turismo brasileiro. A gente estima que, com os cassinos físicos, poderíamos ter aproximadamente R$ 22 bilhões em arrecadação de impostos por ano. Ao passo que, com os cassinos on-line, só alcançamos R$ 12 bilhões em impostos, segundo os cálculos da Receita Federal. Além disso, eles não geram empregos formais para o país. Já os cassinos físicos podem gerar até 1 milhão de empregos diretos e indiretos na atividade turística", avalia Felipe.

Os cassinos físicos foram proibidos no Brasil em 1946, durante o governo de Eurico Gaspar Dutra. Na época, alegou-se que os jogos de azar eram contrários à tradição moral, jurídica e religiosa do povo brasileiro. A decisão foi tomada após campanhas do Instituto dos Advogados do Brasil e de setores da Igreja Católica contra os cassinos.

A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) mantém sua posição contra a liberação destes estabelecimentos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também é crítica de medidas nesse sentido e reconhece que o vício em jogos de azar pode se converter em um problema de saúde pública.

Com informações de Leo Rodrigues, Agência Brasil.

Acesse a LEI Nº 13.756, DE 12 DE DEZEMBRO DE 2018>>