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Unicef alerta: 417 milhões de crianças vivem na pobreza em 130 países

Relatório aponta que pobreza multidimensional afeta uma em cada cinco crianças no mundo, causando privações em áreas como educação, saúde, moradia, nutrição, saneamento e água

22 NOV 2025 - 09H50 • Por Wilson Lopes
As maiores taxas de pobreza multidimensional entre crianças estão concentradas na África Subsaariana e no Sul da Ásia - Mark Naftalin/Unicef

O relatório ‘Situação Mundial das Crianças 2025: Erradicar a Pobreza Infantil – Nosso Dever Comum’, publicado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), revela que 417 milhões de crianças enfrentam privações severas em pelo menos duas áreas vitais para sua saúde, desenvolvimento e bem-estar, em 130 países de baixa e média renda.

Publicado no Dia Mundial da Criança (20/11), o relatório do Unicef constata que a pobreza multidimensional afeta uma em cada cinco crianças no mundo, causando privações em áreas como educação, saúde, moradia, nutrição, saneamento e água. A análise mostra que 118 milhões de crianças no mundo enfrentam três ou mais privações, e 17 milhões enfrentam quatro ou mais.

“Crianças que crescem na pobreza e são privadas de direitos essenciais como boa nutrição, saneamento adequado e moradia enfrentam consequências devastadoras para sua saúde e desenvolvimento. Não precisa ser assim. Quando os governos se comprometem a erradicar a pobreza infantil por meio de políticas eficazes, podem abrir um mundo de possibilidades para as crianças”, disse Catherine Russell, diretora-executiva do Unicef. 

As maiores taxas de pobreza multidimensional entre crianças estão concentradas na África Subsaariana e no Sul da Ásia. No Chade, por exemplo, 64% das crianças enfrentam duas ou mais privações severas, e pouco menos de 25% enfrentam três ou mais.

O saneamento é a privação severa mais disseminada, aumentando a exposição das crianças a doenças graves, como diarreias ou arboviroses (Stitching a future - SOWC 2025)

Privação mais severa

O saneamento é a privação severa mais disseminada, com 65% das crianças sem acesso a banheiro em países de baixa renda, 26% em países de renda média-baixa e 11% em países de renda média-alta. A falta de saneamento adequado aumenta a exposição das crianças a doenças graves, como diarreias ou arboviroses. 

A proporção de crianças enfrentando uma ou mais privações severas em países de baixa e média renda caiu de 51% em 2013 para 41% em 2023, principalmente devido à priorização dos direitos da criança em políticas públicas nacionais e planejamento econômico. 

No entanto, o progresso está estagnado. Conflitos, crises climáticas e ambientais, mudanças demográficas, aumento da dívida nacional e ampliação das divisões tecnológicas estão agravando a pobreza. Ao mesmo tempo, cortes sem precedentes na ajuda humanitária internacional podem aprofundar a privação infantil nesses países.

Ainda assim, é possível avançar na erradicação da pobreza infantil. Por exemplo, a Tanzânia reduziu a pobreza infantil multidimensional em 46 pontos percentuais entre 2000 e 2023, impulsionada por programas de transferência de renda e empoderamento das famílias pobres para tomar decisões financeiras. 

Já em Bangladesh, a pobreza infantil caiu 32 pontos percentuais no mesmo período, graças a iniciativas governamentais que ampliaram o acesso à educação e eletricidade, melhoraram a qualidade das moradias e investiram em serviços de água e saneamento, reduzindo a defecação ao ar livre de 17% em 2000 para zero em 2022.

O relatório destaca que as crianças mais novas, com deficiências, que vivem em países em crise, são particularmente vulneráveis (Minzayar Oo/Unicef)

Pobreza, depressão e ansiedade

A pobreza prejudica a saúde, o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças – levando a piores perspectivas de emprego, a menor expectativa de vida e a um aumento das taxas de depressão e ansiedade. O relatório destaca que as crianças mais novas, com deficiências, que vivem em países em crise, são particularmente vulneráveis.

O relatório também analisa a pobreza monetária, que limita ainda mais o acesso das crianças a alimentos, educação e serviços de saúde. Segundo os dados mais recentes, mais de 19% das crianças no mundo vivem em pobreza monetária extrema, sobrevivendo com menos de US$ 3 por dia. Quase 90% dessas crianças estão na África Subsaariana e no Sul da Ásia.

Taxas de privação infantil grave por faixa de renda, históricas e projetadas, 2000–2030 (Fonte: The State of the World's Children 2025)

Pobreza monetária relativa

A análise incluiu 37 países de alta renda, mostrando que cerca de 50 milhões de crianças – ou 23% da população infantil nesses países – vivem em pobreza monetária relativa, o que significa que seus lares têm renda significativamente menor que a maioria naquele país, limitando sua participação plena na vida cotidiana.

Embora a pobreza tenha diminuído, em média, 2,5% nesses 37 países entre 2013 e 2023, o progresso estagnou ou retrocedeu em muitos casos. Na França, Suíça e Reino Unido, por exemplo, a pobreza infantil aumentou mais de 20%. No mesmo período, a Eslovênia reduziu sua taxa de pobreza em mais de um quarto, graças a um sistema robusto de benefícios familiares e legislação sobre salário mínimo.

Prioridade nacional

O relatório destaca que erradicar a pobreza infantil é possível e reforça a importância de colocar os direitos da criança, conforme a Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, no centro das estratégias, políticas públicas e ações governamentais voltadas à redução da pobreza, ao: 

O relatório chega em um momento em que muitos governos estão reduzindo a ajuda humanitária internacional. Cortes na ajuda ao desenvolvimento podem resultar na morte de 4,5 milhões de crianças menores de 5 anos até 2030, segundo a revista The Lancet. Ao mesmo tempo, estimativas recentes do Unicef indicam que os cortes podem deixar mais seis milhões de crianças fora da escola já no próximo ano.

“Antes mesmo da crise global de financiamento, muitas crianças já estavam privadas de suas necessidades básicas. Este não é o momento de recuar. É hora de consolidar os avanços conquistados para as crianças ao longo dos anos. Governos e empresas podem fazer isso fortalecendo investimentos em serviços essenciais para manter as crianças saudáveis e protegidas, garantindo acesso a itens básicos como boa nutrição, especialmente em contextos frágeis e humanitários. Investir nas crianças é investir em um mundo mais saudável e pacífico – para todos”, conclui Catherine Russell.

O relatório aponta que a redução na ajuda humanitária internacional pode resultar na morte de 4,5 milhões de crianças menores de 5 anos até 2030 (Atiko Anthony/Unicef) 

Pobreza = US$ 3,00/dia (R$ 16,20)

O relatório ‘Situação Mundial das Crianças 2025’ considerou os limiares atualizados de pobreza monetária do Banco Mundial, que são: 

Com base nesses limiares, o Banco Mundial estima taxas e números de pobreza a partir de dados de diversas pesquisas compiladas em seu Banco de Dados Global de Monitoramento.

Com informações do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
@unicefbrasil @unicef

Acesse o relatório The State of the World's Children 2025>>