Com o objetivo de projetar cenários de demanda futura de água nas moradias brasileiras no ano de 2050, apontando as principais variáveis que influenciam as diferentes tendências de crescimento do consumo, o Instituto Trata Brasil, em parceria com a consultoria EX ANTE, produziu o estudo ‘Demanda Futura por Água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças Climáticas’.
Segundo dados do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA), em 2023 foram consumidos 10,7252 bilhões de m³ de água. Esse volume corresponde a uma média diária de 175,38 litros por pessoa no país, incluindo a quantidade de água perdida na distribuição.
Para estimar a demanda hídrica até 2050, o estudo estabeleceu cenários de expansão demográfica (taxas de fertilidade, mortalidade e fluxos migratórios) e de crescimento econômico (salário médio, taxa de investimento, matrículas, produtividade, acesso à água e coleta de esgoto, entre outros).
Nessa projeção, o consumo per capita médio do país deve passar de 175,29 litros diários por habitante em 2023 – com acesso ao sistema de abastecimento de água – para um volume médio de 204,86 litros diários por habitante em 2033. Isso corresponde a uma taxa média de crescimento anual de 1,6%, inferior ao aumento projetado para o rendimento per capita do trabalho no mesmo período, de 2,6% ao ano.
No período seguinte, entre 2033 e 2040, quando se espera que a renda per capita cresça à taxa de 1,1% ao ano, a expansão do consumo será também menor. No terceiro subperíodo, entre 2040 e 2050, prevê-se uma expansão do rendimento do trabalho per capita mais elevada, com um aumento de 3,3% ao ano. Esse avanço esperado mais forte da renda para a década de 2040 fará com que a taxa de expansão do consumo per capita volte a crescer, muito embora num patamar razoável, de 1,1% ao ano. Dessa forma, para o período de 2023 a 2050, espera-se um crescimento médio anual de 0,8% no consumo per capita de água, resultando em um aumento acumulado de 25,3% ao longo dos 27 anos.
Fonte: Demanda Futura por Água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças ClimáticasExpansão da demanda elevada
Na prática, o estudo revela que a expansão da demanda será elevada, o que constitui um grande desafio para os operadores do sistema nos próximos 27 anos.
Acompanhe os principais apontamentos do estudo:
- As análises identificaram um acréscimo de demanda significativo associado à expansão demográfica, ao crescimento econômico e à universalização do atendimento às famílias. As estimativas mostram que a expansão do consumo pode chegar a 59,3% em 27 anos. Nessa situação consistente, a demanda potencial de água deve atingir 17,224 bilhões de m³ em 2050.
- Pressupondo que a demanda potencial por água seja plenamente atendida em 2050, será necessário entregar nas cidades brasileiras 7,249 milhões de m³ de água a mais do que foi efetivamente entregue em 2023. O crescimento de demanda seria, portanto, de 72,7% em 27 anos, o que exigiria uma expansão da oferta de no mínimo 2,0% ao ano por 27 anos para a demanda ser plenamente atendida.
- Considerando que o consumo adicional até 2050 será de 6,414 bilhões de m³, a produção necessária adicional de água seria de 10,672 bilhões de m³, o que equivale a um acréscimo de 59,3% em relação à produção do setor de saneamento em 2023 (GTA1001 do SINISA), que foi de 18,002 bilhões de m³.
- Uma parte desse problema pode ser resolvida com uma redução das perdas de água na distribuição. Segundo dados do SINISA, a média de perda de água na distribuição no país foi de 39,9% em 2023. Nesse ano, as perdas totais alcançaram a cifra de 7,257 bilhões de m³. Esse volume seria suficiente para abastecer a demanda futura incremental por água até 2050.
- O suprimento da demanda futura por água poderá ser garantido, em boa medida, por um processo de racionalização e diminuição das perdas na distribuição. Com desperdícios de 20%, a necessidade de produção de água seria 2,726 bilhões de m³ menor que o nível atual.
- A temperatura máxima deve se elevar em aproximadamente 1º Celsius em relação ao verificado em 2023 e a temperatura mínima deve crescer 0,47º Celsius, indicando aumento da amplitude de 0,52º Celsius até 2050. Outras tendências são a redução do número de dias de chuva e a ocorrência de precipitações mais fortes, dois outros fatores que afetam a oferta e demanda de água nas cidades brasileiras.
- Devido aos aumentos de temperatura, o consumo deve crescer 12,4% adicionalmente ao que deve crescer em razão dos fatores econômicos e demográficos. Isso resultaria numa demanda incremental de 2,113 bilhões de m³ por ano e uma quantidade necessária de produção de mais 3,515 bilhões de m³ por ano (mantendo o nível de perdas na distribuição de 2023).
- O aumento das temperaturas e a perspectiva de redução dos dias de chuva devem levar várias regiões do país à desertificação e ampliar a área do semiárido brasileiro, que reúne municípios mais secos e com maior dificuldade de suprir a demanda. Nas regiões que hoje são mais secas, o aquecimento poderá implicar a quebra na oferta com elevada probabilidade.
- Na média das cidades brasileiras, as tendências climáticas indicam restrição de oferta de 3,4% na média do ano. Isso indica que haverá, na média do país, cerca de 12 dias de racionamento de água por ano. Onde a precipitação média e o número de dias de chuva já são menores – partes do Nordeste e do Centro-Oeste, por exemplo – espera-se que os racionamentos superem 30 dias, com consequências graves na saúde e na qualidade de vida da população.
Vitória da Conquista (BA) conta com 49 chafarizes com caixa d’água de 10 mil litros, implantados em pontos centrais dos povoados, o que facilita a distribuição da água pelas localidades e propicia mais autonomia aos moradores Desafios para o pleno abastecimento
O estudo do Trata Brasil indica que são muitos os desafios para o pleno abastecimento de água até 2050. Segundo o Instituto, o aumento esperado da demanda, se não acompanhado de redução de perdas, elevará o risco de desabastecimento e pressionará os recursos hídricos por aumento da captação.
Para Luana Pretto, presidente executiva do Trata Brasil, o caminho a um 2050 com água para todos passa pela priorização do tema e aumento do investimento já.
“Os dados apresentados reforçam a tendência de aumento no consumo de água, vindo com a maior oferta dos serviços, a expansão demográfica e o crescimento da economia. As tendências climáticas indicam restrição de oferta de água de 3,4% na média do ano por escassez de recursos hídricos em nossos mananciais. Estes dois fatores combinados trazem a urgência de adotarmos medidas imediatas e efetivas para reduzir as perdas no sistema de distribuição de água e planejarmos de forma sustentável a gestão e uso dos nossos recursos hídricos”, alerta.
Com informações do Instituto Trata Brasil.
Acesse o estudo ‘Demanda Futura por Água em 2050: Desafios da Eficiência e das Mudanças Climáticas’>>





