O Governo do Estado do Rio de Janeiro realizou (28/10/25) a maior ação integrada das forças de segurança dos últimos 15 anos. A Operação Contenção mobilizou mais de 2,5 mil policiais civis e militares nos complexos do Alemão e da Penha. O objetivo foi capturar lideranças criminosas e conter a expansão territorial do Comando Vermelho.
Deflagrada após mais de um ano de investigação e 60 dias de planejamento, a operação cumpre centenas de mandados de prisão e de busca e apreensão expedidos pela Justiça a partir de inquéritos da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE).
O aparato tecnológico incluiu dois helicópteros, 32 blindados terrestres, drones, 12 veículos de demolição do Núcleo de Apoio às Operações Especiais da PM e ambulâncias do Grupamento de Salvamento e Resgate.
A Operação Contenção segue em andamento. Todo o balanço de presos, apreensões, materiais recolhidos e demais resultados será apresentado ao término das ações.
Oficialmente, o Governo do Rio de Janeiro já registrou 64 mortos (sendo quatro policiais), 81 presos, 72 fuzis apreendidos e grande quantidade de drogas ainda em contabilização.
Operação mais letal
Na manhã do dia 29/10, aproximadamente mais 50 corpos foram retirados de uma área de mata do Complexo da Penha por moradores (alguns decapitados), além dos 64 contabilizados no dia anterior. Os corpos foram reunidos na Praça São Lucas, no centro da comunidade.
A pedido dos familiares, os corpos foram expostos para registro da imprensa, e depois foram cobertos com lençóis. A comunidade aguarda a retirada dos corpos pelo Instituto Médico-Legal.
Se eles realmente estiverem fora das 64 vítimas contabilizadas ontem, o saldo total de mortos da operação mais letal já realizada pelas forças de segurança do Rio, pode chegar a 120.
Transferência dos líderes
Os ministros Rui Costa (Casa Civil) e Ricardo Lewandowski (Justiça e Segurança Pública) farão uma reunião de emergência com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro.
Além disso, Rui Costa atendeu ao pedido do governador do Rio de Janeiro para transferência de 10 detentos para presídios federais.
Esses homens teriam liderado de dentro da cadeia ações que culminaram com o caos na cidade, incluindo bloqueio de pistas e sequestro de ônibus em diferentes pontos da capital fluminense.
O governo federal acrescentou, em nota, que as forças policiais e militares federais não foram consultadas ou receberam pedido de apoio, por parte do governo estadual do Rio de Janeiro, para realização da operação.
Segundo as organizações, “segurança pública não se faz com sangue” e os resultados da operação expõem “o fracasso e a violência estrutural da política de segurança no estado” (Tomaz SilvaAgência Brasil)Morte como política pública
Movimentos de favelas reforçam, porém, que é preciso dimensionar os efeitos desiguais que as ações policiais provocam nos territórios periféricos. Para o diretor da Iniciativa Direto à Memória e Justiça Racial e militante do movimento de favelas, Fransérgio Goulart, o que se vê é uma guerra dentro de territórios negros e pobres.
Uma nota conjunta de 27 organizações da sociedade civil critica a operação que é considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro. Antes dela, a operação de 2021 no Jacarezinho deixou 27 civis mortos.
Segundo as organizações, “segurança pública não se faz com sangue” e os resultados da operação expõem “o fracasso e a violência estrutural da política de segurança no estado”.
O texto diz ainda que, ao longo dos quase 40 anos de vigência da Constituição Federal, as favelas fluminenses têm visto a consolidação de uma política de segurança baseada no uso da força e da morte, travestida de “guerra” ou “resistência à criminalidade”. As ações seriam atuação seletiva, dirigida contra populações negras e empobrecidas.
Além de não haver sinais de que as ações reduzam o poder das facções criminosas, geram insegurança e medo na população e interrompem o cotidiano de milhares de famílias. A morte não pode ser tratada como política pública, dizem as entidades.
“O que se testemunha hoje é o colapso de qualquer compromisso com a legalidade e os direitos humanos: o Estado substitui a segurança pública baseada em direitos por ações militares de grande escala. Sob o pretexto da ‘guerra às drogas’, instala-se um estado de insegurança permanente, voltado contra a população negra e pobre das favelas. Não há justificativa para que uma política estatal, supostamente voltada à proteção da sociedade, continue a ser conduzida a partir do derramamento de sangue”, diz trecho do comunicado.
O governador do Rio de Janeiro defendeu a operação afirmando que, se for necessário, vai exceder os limites e as competências do governo estadual para manter “a nossa missão de servir e proteger nosso povo”. Ao justificar a operação, o governador cobrou mais apoio federal no enfrentamento às organizações criminosas que atuam no estado e em outras partes do território brasileiro. Segundo Castro, o estado está atuando “sozinho nesta guerra”.
ADPF das Favelas
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), vai conduzir temporariamente o andamento do processo no qual a Corte determinou medidas para redução da letalidade durante operações em comunidades do Rio de Janeiro.
O processo é conhecido como ADPF das Favelas - Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 635. A ação foi protocolada em 2019 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB).
Moraes foi escolhido para tomar decisões urgentes envolvendo o processo, diante da ausência de um relator para o caso. A ação era comandada pelo ex-ministro Luís Roberto Barroso, que se aposentou na semana passada.
Pelo regimento interno do STF, o relator deve ser substituído no caso de vacância acima de 30 dias. Como não há prazo para a indicação de um substituto de Barroso pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Moraes vai cuidar do processo temporariamente.
A ADPF das Favelas voltou à tona após o governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, reafirmar que o aumento da criminalidade aumentou na capital fluminense após as decisões da Corte envolvendo a segurança pública do Rio.
Em abril deste ano, o Supremo definiu medidas para combater a letalidade policial durante operações da Polícia Militar contra o crime organizado nas comunidades do Rio de Janeiro.
Com informações da Agência Brasil e do Governo do Estado do Rio de Janeiro.
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