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A proteção do pequeno empreendedor é essencial para manter o país de pé

30/09/2025 - 09:59
O avanço da globalização e o crescimento avassalador de marketplaces internacionais estão provocando um colapso silencioso nas economias locais

Estamos sendo colonizados novamente. Não mais com navios e espadas, mas com apps, boletos e caixas provenientes do outro lado do mundo. E o mais perigoso: muita gente nem percebe.

Estamos atravessando um momento histórico no comércio mundial. O avanço da globalização e o crescimento avassalador de marketplaces internacionais estão provocando um colapso silencioso nas economias locais. 

Nos Estados Unidos, vimos movimentos de fechamento de mercados com as políticas protecionistas de Donald Trump. Apesar das críticas, sua estratégia mira um objetivo claro: manter a geração de riqueza dentro do país. Essa postura, antes isolada, hoje começa a se consolidar como uma nova tendência global.

Na Europa, no Japão, em várias regiões do mundo, os países estão revendo suas políticas de abertura irrestrita. A ordem é proteger cadeias produtivas nacionais, incentivar consumo interno e controlar a saída de capital. 

O Brasil, no entanto, caminha na direção oposta: é um dos mercados mais abertos e vulneráveis à fuga de riqueza.

Estamos vivendo uma nova colonização. E não é sobre ideologia, é sobre soberania!

Desde junho de 2024, com a entrada da Temu no Brasil, temos assistido a uma mudança drástica no cenário do e-commerce. Em apenas seis meses, a Temu se tornou o segundo maior marketplace do país, superando o Mercado Livre. Em janeiro de 2025, a plataforma registrou impressionantes 142 milhões de visitas — um salto de 11 mil por cento em relação ao ano anterior. A Shopee segue liderando.

Por trás desses números, existe um problema: a riqueza dessas transações não permanece no Brasil. O dinheiro sai direto do bolso do consumidor e voa para fora do país. Enquanto isso, cidades que antes prosperavam com a moda, como as mineiras Passos e Juruaia, têm seus comércios pressionados por produtos estrangeiros de baixíssimo custo.

Durante décadas, aprendemos que a riqueza era distribuída entre os setores primário, secundário e terciário. Essa estrutura gerava emprego, consumo e reinvestimento local. Mas, hoje, a tecnologia permite que o consumidor compre direto da indústria, eliminando os intermediários.

O resultado? Menos lojas, menos empregos, menos dinheiro circulando. Quando um pequeno comércio fecha, uma cidade inteira sente: o funcionário que perde o emprego para de consumir na farmácia, na padaria, no mercado. A engrenagem trava.

As atitudes do governo americano mostram uma estratégia clara de proteção econômica. O objetivo é fazer o dinheiro circular internamente, beneficiando os produtores e trabalhadores locais. Essa estratégia, antes vista como populista ou exagerada, agora está sendo considerada por diversos países como necessária para garantir sustentabilidade econômica e soberania.

No Brasil, seguimos o caminho oposto: fronteiras abertas, regulação frouxa e fuga de capital. Não se trata de fechar mercados, mas de criar condições para competir. A globalização do consumidor é uma realidade, mas precisamos globalizar também a responsabilidade: proteger o pequeno e médio empreendedor é essencial para manter o país de pé.

Nesse contexto, é urgente colocarmos na pauta nacional uma reforma tributária ampla, que simplifique e equalize a carga de impostos, favorecendo a produção e o consumo internos. Assim como uma reforma trabalhista moderna e justa, que incentive o empreendedorismo, reduza a insegurança jurídica e promova a formalização com menos entraves. Não se trata de precarizar, mas de atualizar o sistema para o novo tempo econômico em que vivemos.

É fundamental compreender que esse movimento de proteção à riqueza nacional não está atrelado à dicotomia entre direita e esquerda. Trata-se de uma agenda econômica pragmática, que busca preservar a capacidade dos países de gerar e reter riqueza. Infelizmente, a polarização política que vivemos hoje no Brasil atrapalha a leitura clara dos fatos: quando uma ideia é associada a um dos lados, o outro tende a rechaçá-la automaticamente, mesmo que ela seja coerente, necessária ou urgente.

Precisamos superar esse ciclo de rejeição automática e começar a discutir o futuro do Brasil com mais profundidade e menos paixão ideológica. É hora de olhar para os problemas reais com responsabilidade e empatia.

Estamos diante de uma nova forma de colonização. Diferente da história que aprendemos na escola, não são mais as nações invadindo territórios, mas sim grandes corporações extraindo riqueza sem deixar rastro.

A solução está na consciência coletiva: valorizar o que é produzido no Brasil, exigir tributação justa para produtos importados, apoiar o comércio local, avançar com reformas estruturantes que devolvam competitividade ao empresariado brasileiro e, acima de tudo, superar a polarização e discutir soluções concretas para o país.

Cada compra é um voto. Votar com a carteira é escolher o tipo de economia que queremos para o futuro.

Se não agirmos agora, perderemos não apenas empregos e empresas, mas a nossa capacidade de prosperar como nação.

Fred Rocha @eufredrocha
Fred Rocha, pesquisador, consultor e palestrante, foi reconhecido 4 vezes Profissional de Marketing do Brasil em 2016 e em 2019. É um dos especialistas de varejo mais contratados no Brasil, com mais de 30 anos de experiência. Contempla 18 negócios de diversos segmentos em seu currículo e 33 países visitados a trabalho. Foi pioneiro no e-commerce no Brasil em 1997 e autor de dois livros: ‘ManUAU do Novo Varejista’ e ‘O novo jeito de vender’, pela Editora Gente. Apresentador do Programa Empreender - Rede Globo (MG, SP, RJ, ES, MT e MS). Atualmente, mantém a ‘Venda do Fred’, case no setor de alimentação fora do lar na sua cidade natal.

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