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Por que o Vaticano não fica em Jerusalém?

Jesus nunca esteve em Roma, onde foi erguida a sede oficial da Igreja Católica

6/11/2024 - 08:00 Por Wilson Lopes

Foi na cidade de Jerusalém, em Israel, o local onde Jesus realizou muitos de seus milagres; orou no Jardim do Getsêmani, onde está a Basílica da Agonia; transmitiu sermões aos discípulos, fez sua última oração e foi preso no Monte das Oliveiras; carregou a cruz pela Via Dolorosa, onde estão 9 das 14 estações da Via Sacra; foi crucificado, sepultado e teria ressuscitado, onde encontra-se a Basílica do Santo Sepulcro.

Então, por que o Vaticano, o núcleo oficial da Igreja Católica, não foi instalado em Jerusalém, o berço sagrado do cristianismo? Para o teólogo Richard McBrien, autor da Enciclopédia do Catolicismo, a explicação não é baseada na fé, mas na política. 

Jerusalém à época de Jesus Cristo era dominada pelo Império Romano e já era considerada sagrada para o judaísmo (capital do Reino de Davi), pois foi onde o Rei Salomão ergueu o templo para guardar a Arca da Aliança, que continha as tábuas sagradas onde foram escritos os Dez Mandamentos. E, mais tarde, também pelo islamismo, pois os muçulmanos acreditam que Maomé foi levado de Meca para o Monte do Templo, onde está a mesquita de Al-Aqsa e o Domo da Rocha, e de lá ascendeu ao Paraíso para encontrar os profetas do Islão. 

Após a morte de Jesus, os apóstolos Pedro e Paulo seguiram para Roma (aproximadamente 4.000km de Jerusalém), então sede do maior império da época, onde pregaram o cristianismo, a nova fé, que não exigia práticas como circuncisão e restrições alimentares, como o judaísmo. Em Roma, eles foram assassinados e se tornaram os primeiros mártires da Igreja.

Após o imperador romano Constantino, filho de Santa Helena, se converter, no século 4, o cristianismo se tornou a religião oficial do império e, para os cristãos do Ocidente, Roma passou a ser considerada a capital da sua fé.

Enquanto o cristianismo conquistava adeptos em Roma, Jerusalém era desfigurada por uma série de guerras. “Jerusalém foi perdendo importância em comparação a Roma”, afirma McBrien.

Estado do Vaticano

A consolidação de Roma como marco geodésico do cristianismo ocorreu em 1929 por meio do Tratado de Latrão, chancelado pelo ditador Benito Mussolini e o Papa Pio XI, estabelecendo o Estado da Cidade do Vaticano, um território sobre o qual a Igreja Católica seria soberana. 

Desde então, o Vaticano se tornou um Estado teocrático-monárquico. Conta aproximadamente com 44 hectares (0,44 km²) e com uma população estimada de 1 000 habitantes, todos clérigos católicos de diferentes origens raciais, étnicas e nacionais.
Governado pelo bispo de Roma, o Papa, com poder absoluto, até a sua morte ou renúncia, o Vaticano é o epicentro de uma religião que agrega 1,5 bilhão de católicos romanos (latinos e orientais) de todo o mundo.

Enquanto isso, de acordo com dados divulgados pela agência oficial Vatican News, os cidadãos cristãos representam apenas 1,9% da população de Israel. O livro anual de estatística de Jerusalém listou 1.204 sinagogas, 158 igrejas de várias congregações e 73 mesquitas na cidade. A única que pode ser considerada cristã, a Basílica do Santo Sepulcro, tem administração compartilhada pelas igrejas Católica Romana, Católica Ortodoxa, Apostólica Armênia, Ortodoxa Copta, Ortodoxa Siríaca e Ortodoxa Etíope. 
 


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