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Democracias 88 X 91 Autocracias

Três em cada quatro pessoas no mundo vivem atualmente sob regimes autocráticos

28/07/2025 - 11:42 Por Wilson Lopes
Os pesquisadores analisaram 179 países em 2024

As autocracias passaram a ser maioria no mundo, segundo o Relatório da Democracia 2025, do Instituto V-Dem, ligado à Universidade de Gotemburgo, na Suécia. Os dados do estudo mostram que o mundo tinha, ao final de 2024, 88 democracias e 91 autocracias, uma inversão em relação ao ano anterior. 

O levantamento considera autocracia o regime político em que o poder está concentrado em uma pessoa ou grupo político, com pouco ou nenhum controle democrático, e liberdades civis e políticas restringidas. 

No caso da democracia, há eleições multipartidárias, livres e justas; graus satisfatórios de sufrágio, liberdade de expressão e liberdade de associação e restrições judiciais e legislativas ao Poder Executivo são cumpridas, juntamente com a proteção das liberdades civis e a igualdade perante a lei.

Conforme o relatório, cerca de três em cada quatro pessoas no mundo, ou 72% (5,8 bilhões de pessoas), vivem atualmente em autocracias – o nível mais elevado desde 1978. Os pesquisadores analisaram 179 países em 2024. 

Segundo o texto, os regimes autocráticos estão concentrados no Oriente Médio, norte de África, Ásia do Sul e Central, e na África Subsariana. Já os países democráticos são mais comuns na Europa Ocidental e na América do Norte, assim como em algumas partes do Leste Asiático e do Pacífico, na Europa do Leste e na América do Sul. 

Polarização e desinformação

O levantamento coloca a desinformação e a polarização política entre as principais ameaças às democracias. Segundo o estudo, a desinformação é utilizada pelos governos autocráticos para inflacionar propositadamente sentimentos negativos na população e criar um sentimento de desconfiança. Já a polarização serve para reduzir a confiança nas instituições governamentais.

“Estudos sugerem que a polarização se torna frequentemente uma ajuda para os governos espalharem a desinformação, enfraquecendo a democracia. Se a polarização for elevada, os cidadãos estão mais dispostos a trocar os princípios democráticos por outros interesses ou a ajudar o seu lado a ganhar. A votação do Brexit e as eleições presidenciais de 2016 nos EUA são dois exemplos proeminentes em que este padrão se verificou”, aponta o estudo. 

Segundo o relatório, a polarização política aumentou significativamente em nove países, considerando eleições ocorridas em 2024.

O relatório faz menção ao cenário político nos Estados Unidos, “onde níveis tóxicos de polarização definiram, na maioria, os debates durante as eleições de 2024”. O estudo faz uma observação de que “alguns aspectos da democracia nos EUA já estivessem a ser afetados em 2024, os dados do V-Dem ainda não captam os desenvolvimentos recentes e extremamente preocupantes”.

Violência política e ataque à imprensa

O levantamento mostra ainda que a violência política e o aumento dos ataques aos meios de comunicação social foram os componentes da democracia que mais sofreram durante os pleitos eleitorais de 2024 no mundo.

“Quase um quarto de todas as eleições realizadas em 2024 – 14 em 61 – foram marcadas por um aumento na violência política. Por exemplo, o México realizou a sua eleição mais sangrenta da história recente, com pelo menos 37 concorrentes assassinados, e existiram tentativas de assassinato do primeiro-ministro na Eslováquia e do, então, candidato Trump”.

Antes do colapso democrático

O Relatório da Democracia 2025 aponta casos bem-sucedidos de autocratização que foram revertidos, como os do Brasil, Polônia e Zâmbia, considerando a manipulação autoritária, reação democrática e intervenção internacional. “Os dados sobre os episódios de reviravoltas abrem novos caminhos para a compreensão de por que alguns processos de autocratização desencadeiam uma reação pró-democrática bem-sucedida”, ressalta o documento.

Sobre o caso brasileiro, o relatório destaca que, entre os países onde a autocratização foi interrompida e revertida antes do colapso democrático, “a autocratização do Brasil começou em 2016, após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff”. Diz o documento: “Em meio à instabilidade e à polarização social, o populista de direita Jair Bolsonaro foi eleito presidente em 2018. Seguiram-se ataques à mídia, tentativas de minar as eleições e conflitos com o Legislativo e o Judiciário. A autocratização foi interrompida e revertida quando o candidato da oposição Luis Inácio ‘Lula’ da Silva derrotou Bolsonaro nas urnas em 2022. A democracia se recuperou, mesmo que não totalmente, aos níveis anteriores.”

O Instituto V-Dem apontou que, além das eleições, colaboraram para derrotar a autocratização no Brasil “a liberdade de expressão acadêmica e cultural, leis transparentes com aplicação previsível, investigações legislativas, respeito do executivo pela constituição, além do grau de engajamento da sociedade na deliberação sobre políticas e o grau dos políticos.” 

“Sabemos que o combate à desinformação em torno das eleições de 2022 no Brasil foi fundamental para interromper a autocratização e revertê-la para a redemocratização”.

Com informações de Bruno Bocchini, Agência Brasil.

@vdeminstitute

Acesse o Relatório da Democracia 2025>>

 

 


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