O relatório chega num momento em que o financiamento internacional para a saúde sofre cortes drásticos em todo o mundoUm relatório publicado pelo Conselho Global sobre Desigualdades, Aids e Pandemias, ligado ao Unaids/ONU, aponta que as desigualdades sociais impactam diretamente o enfrentamento das pandemias, fazendo com que sejam mais longas, letais e onerosas, além de ampliar a exposição de populações vulneráveis.
A conclusão é apresentada no estudo ‘Breaking the inequality-pandemic cycle Building true health security in a global age’. A versão em português do relatório (Quebrando o ciclo desigualdade–pandemia: construindo uma verdadeira segurança sanitária em uma era global) foi lançada durante a 57ª Reunião do Comitê de Coordenação do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), presidido pelo Brasil.
No Brasil, segundo o relatório, pessoas sem educação básica tiveram probabilidade até três vezes maior de morrer por Covid-19 do que aquelas com ensino superior. Países com maiores níveis de desigualdade também registraram taxas mais elevadas de mortalidade por Covid-19, maior incidência de HIV e mais dificuldades para implementar respostas eficazes.

Além disso, durante a pandemia de Covid-19, cerca de 165 milhões de pessoas foram levadas à pobreza, enquanto a riqueza dos mais ricos cresceu mais de 25%. Os impactos econômicos atingiram de forma desproporcional mulheres, trabalhadores informais e grupos étnicos minoritários, que concentraram as maiores perdas de emprego e renda.
Para romper o ciclo desigualdade–pandemia, o relatório recomenda quatro ações: remoção de barreiras financeiras globais; investimento nos determinantes sociais da saúde; fortalecimento da produção local e do compartilhamento de tecnologias; e aprimoramento da governança, com participação comunitária.
Caminhos para quebrar o ciclo desigualdade-pandemia
Os autores defendem que apenas uma transformação estrutural pode impedir que futuras pandemias repitam os mesmos padrões de destruição social e econômica. Propõem, assim, quatro áreas de ação prioritárias e interligadas.
Em primeiro lugar, eliminar os entraves financeiros que impedem países em desenvolvimento de investir em saúde e proteção social, incluindo a suspensão do pagamento de dívidas durante períodos de crise e a criação de novos mecanismos automáticos de financiamento de emergência.
Em segundo lugar, investir nos determinantes sociais da saúde, como educação, habitação, trabalho digno e nutrição, para reduzir vulnerabilidades antes que as crises surjam. Em terceiro, garantir o acesso equitativo à tecnologia e aos medicamentos, promovendo a produção regional, o levantamento de patentes durante pandemias e a partilha de conhecimento científico como bem público global.
Por fim, construir uma governança mais inclusiva, que envolva comunidades locais e organizações de base nas decisões de preparação e resposta, fortalecendo a confiança e a eficiência das políticas de saúde pública.
O relatório chega num momento em que o financiamento internacional para a saúde sofre cortes drásticos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, OMS, a ajuda externa aos sistemas de saúde poderá cair entre 30% e 40% este ano, comprometendo serviços essenciais, da vacinação à saúde materna.
O relatório é copresidido pelo prêmio Nobel da Economia Joseph Stiglitz, pela ex-primeira-dama da Namíbia Monica Geingos e pelo epidemiologista britânico Michael Marmot, com participação da ex-ministra da Saúde no período de janeiro de 2023 a fevereiro de 2025, Nísia Trindade, membro-fundadora do Conselho Global.
“Pesquisas de soroprevalência realizadas no Brasil em meados de 2020 mostraram que indivíduos no quintil de renda mais baixo tinham mais que o dobro da probabilidade de terem sido infectados em comparação com aqueles no quintil mais rico, e as taxas de infecção foram significativamente menores entre pessoas com níveis mais altos de escolaridade. As populações indígenas tinham quase cinco vezes mais probabilidade de testar positivo do que indivíduos brancos. Estados e municípios mais desiguais no Brasil sofreram maior mortalidade por COVID-19, refletindo diferenças nos riscos de exposição (moradias superlotadas, trabalho precário), acesso a cuidados e capacidade de governança local. Brasileiros analfabetos também eram muito mais propensos a morrer de COVID do que aqueles que tinham recebido pelo menos o nível fundamental de educação”, aponta o relatório.
Com informações de João Vitor Moura, Ministério da Saúde; ONU News.
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