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2,4 milhões

Pela primeira vez, o Brasil sabe quantos são os seus autistas

A inclusão da pesquisa sobre autismo no questionário do Censo Demográfico 2022 foi determinada por lei

24/05/2025 - 12:00 Por Wilson Lopes

O Censo Demográfico 2022 identificou 2,4 milhões de pessoas com diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA), o que corresponde a 1,2% da população brasileira. A prevalência foi maior entre os homens (1,5%) do que entre as mulheres (0,9%): 1,4 milhão de homens e 1,0 milhão de mulheres foram diagnosticados com autismo por algum profissional de saúde. Entre os grupos etários, o de maior prevalência foi o de 5 a 9 anos (2,6%).

As informações são do ‘Censo Demográfico 2022: Pessoas com Deficiência e Pessoas Diagnosticadas com Transtorno do Espectro Autista - Resultados preliminares da amostra’, divulgado pelo IBGE.

“Não existe grande diferença entre as Grandes Regiões. O Centro-Oeste têm uma proporção um pouco menor, com 1,1%, enquanto as demais têm 1,2% da população com diagnóstico de TEA. Em números absolutos, assim como para o total da população, o Sudeste concentra a maioria, com um pouco mais de um milhão de pessoas diagnosticadas com autismo, seguido pelo Nordeste, com 633 mil; Sul, com 348,4 mil; Norte; com 202 mil e Centro-Oeste, com 180 mil”, ressaltou Raphael Alves, membro da equipe técnica temática de pessoas com deficiência e pessoas diagnosticadas com transtorno do espectro autista do Censo Demográfico.

Maior entre crianças e adolescentes

Entre os grupos etários, a prevalência de diagnóstico de autismo foi maior entre os mais jovens: 2,1% no grupo de 0 e 4 anos de idade, 2,6% entre 5 e 9 anos, 1,9% entre 10 e 14 anos e 1,3% entre 15 e 19 anos. Esses percentuais representam, ao todo, 1,1 milhão de pessoas de 0 a 14 anos com autismo. Nos demais grupos etários, os percentuais oscilaram entre 0,8% e 1,0%.

Ao se considerar conjuntamente os recortes de sexo e idade, o grupo de meninos de 5 a 9 anos apresentou o maior percentual de diagnóstico: 3,8% da população masculina nessa faixa etária, o equivalente a 264,6 mil indivíduos. Entre as meninas da mesma faixa, o percentual foi de 1,3%, totalizando 86,3 mil pessoas. Situação semelhante foi observada no grupo 0 a 4 anos, com prevalência de 2,9% entre os meninos e 1,2% entre as meninas.

A prevalência de TEA foi maior entre os homens em todos os grupos etários até 44 anos. Entre 45 e 49, 55 e 59 e 70 anos ou mais, os percentuais foram equivalentes entre os sexos de nascimento. Já nos grupos de 50 a 54 e 60 a 69 anos, as mulheres apresentaram prevalências ligeiramente superiores às dos homens, com diferença de 0,1 pontos percentuais.

O maior percentual de pessoas com autismo se deu entre as pessoas declaradas brancas (Ricardo Marajó/Prefeitura Curitiba/PR)

Maior entre os brancos

Na desagregação por cor ou raça, o maior percentual de pessoas com autismo se deu entre as pessoas declaradas brancas, com 1,3%, o que equivale a 1,1 milhão de pessoas. A menor prevalência está entre as pessoas de cor ou raça indígena, com 0,9%, o que representa 11,4 mil pessoas. Este percentual sobe para 1% quando consideradas também as pessoas de outra cor ou raça que se consideram indígenas. Entre as pessoas amarelas, 1,2% tinham diagnóstico de autismo, o que corresponde a 10,3 mil pessoas. Cerca de 221,7 mil pessoas pretas e 1,1 milhão de pessoas pardas possuem TEA (Transtorno do Espectro Autista), representando 1,1% de cada uma dessas populações.

Maior taxa de escolarização

A taxa de escolarização da população com autismo (36,9%) foi superior à observada na população geral (24,3%). Essa diferença foi mais expressiva entre os homens: 44,2% dos homens com autismo estavam estudando, frente a 24,7% do total. Entre as mulheres, a taxa de escolarização foi 26,9% entre aquelas com autismo, ante 24,0% no total.

“Tal diferença se dá pela maior concentração da população com autismo nas idades mais jovens, principalmente entre as idades de 6 a 14 anos, que possuem altas taxas de escolarização e concentram mais da metade da população de estudantes com autismo”, explica Raphael.

Para a população total por idade, destacaram-se os grupos de 18 a 24 anos (30,4% para autistas e 27,7% para o total) e 25 anos ou mais (8,3% e 6,1%, respectivamente), onde a taxa de escolarização entre pessoas com autismo superou a da população geral, sugerindo trajetórias mais prolongadas de escolarização ou retornos à educação formal.

A desagregação por cor ou raça estimou, em 2022, 347,8 mil estudantes brancos com diagnóstico de autismo, 344,4 mil pardos, 62,6 mil pretos, 3,5 mil indígenas e 2,4 mil amarelos. “Ao analisar as taxas de escolarização, observou-se o mesmo padrão verificado na análise por sexo: as taxas entre pessoas com autismo foram maiores do que as da população geral para todos os grupos de cor ou raça”, destacou o analista.

A maior diferença foi registrada entre as taxas de escolarização das pessoas de cor ou raça branca: 37,4% para as pessoas com autismo, frente a 23,5% para a população branca total, ou seja, uma razão de 1,6 vezes. No grupo pardo, a taxa de escolarização das pessoas com autismo (37,7%) também superou de forma expressiva a média do total de pardos (25,9%). Já entre os estudantes indígenas, a diferença foi menor: 36,0% entre os com autismo, contra 34,3% no total.

Mais de 70% dos estudantes homens com autismo tinham de 6 a 14 anos

O total de 760,8 mil estudantes de 6 anos ou mais com autismo no Brasil representa 1,7% do total de estudantes na faixa analisada. O analista do IBGE ressalta que “este percentual é superior à proporção de pessoas com diagnóstico de autismo na população geral (1,2%), resultado condizente com a prevalência maior do diagnóstico entre a população em idade escolar, especialmente entre os mais jovens”.

O grupo de 6 a 14 anos concentrou a maior parcela de estudantes com esse diagnóstico: 70,4% dos homens e 54,6% das mulheres estudantes com autismo. Em comparação, os estudantes em geral nesse grupo de idade representavam 55,4% dos homens e 51,3% das mulheres. Assim, entre as pessoas com autismo, essa etapa da educação básica apresentou maior concentração relativa do que na população estudantil total. Nos demais grupos de idade, a relação se inverte: os percentuais de estudantes com autismo são menores do que os do total de estudantes.

Em Anápolis (GO), a Lei nº 4.224/2022, prevê a conscientização do Autismo e a realização de eventos, debates e ações sobre o tema (Paulo de Tarso)

Mais de dois terços dos estudantes com autismo frequentavam o ensino fundamental

A maior parte dos estudantes com autismo estava matriculada no ensino fundamental regular, totalizando 508 mil pessoas, ou 66,8% dos estudantes com autismo no Brasil. Já o ensino médio regular concentrava 93,6 mil estudantes com autismo e representavam apenas 12,3% dos que frequentavam a escola. Esses dados apontam que a trajetória escolar dos estudantes com autismo está concentrada nas etapas iniciais da educação básica.

Quando se observa a taxa de estudantes com autismo em relação ao total de matriculados por curso, a alfabetização de jovens e adultos se destacou com o maior percentual: 4,7% dos seus frequentadores declararam esse diagnóstico. A proporção foi ainda mais expressiva entre estudantes de 15 a 17 anos (9,1%) e 18 a 24 anos (10,6%). Destaca-se, ainda, que 3,8% das crianças que frequentavam creche tinham diagnóstico de TEA .

Já no ensino superior, esse percentual cai para 0,8%, refletindo os desafios enfrentados por estudantes com autismo para permanecer e progredir ao longo da trajetória educacional, sobretudo diante de barreiras de acesso, adaptação curricular e apoio institucional adequado.

Quase metade das pessoas com diagnóstico de autismo estava no grupo sem instrução e fundamental incompleto

A distribuição percentual das pessoas de 25 anos ou mais de idade segundo o nível de instrução indicou que 46,1% das pessoas com diagnóstico de autismo estavam no grupo sem instrução e fundamental incompleto, enquanto, na população geral, esse percentual era de 35,2%. Para os demais níveis de instrução, os percentuais da população com autismo foram inferiores aos observados na população geral. Destaca-se o grupo com médio completo e superior incompleto, no qual 25,4% das pessoas com autismo se encontravam, frente a 32,3% da população total.

Centro de Atenção Psicossocial (Caps), realizou a entrega de panfletos e orientações aos condutores que passavam pelo centro da cidade de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso (Anderson Lippi)

Está na Lei

A inclusão do quesito sobre autismo no questionário do Censo Demográfico 2022 foi determinada pela Lei nº 13.861, de 18/07/2019, que alterou a Lei nº 7.853, de 24/10/1989, para “incluir as especificidades inerentes ao transtorno do espectro autista – TEA, nos censos demográficos”. A lei é oriunda do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 139/2018 de autoria da deputada federal Carmen Zanotto, com relatoria da senadora Mara Gabrilli.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o “transtorno do espectro autista é caracterizado por déficits persistentes na habilidade de iniciar e manter interações sociais e comunicação social recíprocas, e por uma gama de padrões de comportamento, interesses ou atividades restritos, repetitivos e inflexíveis, que são claramente atípicos ou excessivos para a idade e o contexto sociocultural do indivíduo.

Na legislação brasileira, por sua vez, as pessoas diagnosticadas com TEA também são consideras pessoas com deficiência pela Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA (Lei nº 12.764, de 27.12.2012). Desta maneira, as políticas públicas e as ações de Estado, determinadas pela Lei nº 7.853, de 24.10.1989, são asseguradas ao exercício dos direitos das pessoas portadoras de deficiência e inequivocamente àqueles diagnosticados com TEA.

Com informações, Breno Siqueira e Licia Rubinstein, Agência IBGE Notícias.
@ibgeoficial @carmenzanotto_lages @maragabrilli

Acesse a publicação ‘Censo Demográfico 2022 : pessoas com deficiência e pessoas diagnosticadas com transtorno do espectro autista : resultados preliminares da amostra / IBGE’>>

Acesse a Lei nº 13.861, de 18/07/2019>>

 

 


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