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Oceano sem Mistérios

87% dos brasileiros querem mudar hábitos para proteger o oceano; só 7% participam de ação efetiva

Estudo mostra que 90% dos brasileiros concordam que o aumento do nível do mar é uma ameaça real para as cidades costeiras

28/10/2025 - 12:32 Por Wilson Lopes

Desde 1901, o nível médio do mar subiu 20 centímetros — sendo 9,4 centímetros apenas desde 1993, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a NASA.

E foi para compreender a relação do brasileiro com o mar que, em 2022, a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com a Unesco e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), iniciou um mergulho profundo no status da cultura oceânica no Brasil, relacionando cenários sobre como o dia a dia da sociedade está conectado com o oceano. 

O estudo ganhou a segunda versão em 2025, ‘Oceano sem Mistérios - A Relação dos Brasileiros com o Mar’, que aprofunda em temas como a disposição dos brasileiros em mudar hábitos a favor do oceano, na compreensão da relação existente entre o ambiente marinho e as mudanças climáticas, e sobre como as pessoas percebem os impactos do oceano em suas vidas.

A pesquisa ouviu 2 mil pessoas em 38 municípios (62% em capitais) e 80% delas indicam uma emoção positiva em relação ao oceano. No geral, 12% nunca visitaram uma praia. 

Quando estão à beira-mar, a opção predileta é tomar banho de mar (47%), andar na praia (26%), admirar o mar (17%), praticar esporte (17%), aproveitar a gastronomia local (10%) e bronzear-se (10%).

Quando estão longe da praia, os entrevistados disseram que adotam hábitos sustentáveis, como praticar o turismo responsável (70%), consumir conscientemente (47%), optar por energia renovável (43%), evitar plástico de uso único (42%) e informar-se sobre o oceano (27%).

Fonte: Oceano sem Mistérios - A Relação dos Brasileiros com o Mar

Mão na areia

O estudo mostrou que 87,6% dos brasileiros mostram-se dispostos a mudar hábitos pelo oceano (82,2% em 2022). Uma evolução correspondente a 11,4 milhões de pessoas. Entretanto, apenas 7% (o equivalente a 14,8 milhões de brasileiros) relatam ter participado de alguma atividade de conservação marinha nos últimos 12 meses. Os dados revelam que a preocupação com a conservação do oceano aumentou, mas é necessário estimular as ações práticas.

Na média, os entrevistados deram uma nota de 8,6 (0 a 10) para a disposição em mudar os hábitos pelo bem do oceano. Mas 93% não participaram de nenhuma atividade relacionada à conservação do oceano nos últimos 12 meses.

Para 49%, o oceano impacta a sua vida diretamente; 19% acreditam que o impacto é indireto; mas 29% disseram que não impacta em nada.

Mesmo assim, 84% acham que o oceano e seus ecossistemas sofrem ameaças ou riscos iminentes. 13% discordam. 

Para 69% dos brasileiros, o governo/poder público é o principal responsável para tomar medidas para contornar as ameaças ao oceano (Dyego Gonçalves/ Prefeitura de Mongaguá)

A edição de 2025 aprofundou em novos temas para compreender o nível de conhecimento da população:

  • 90% concordam - O aumento do nível do mar é uma ameaça real para as cidades costeiras.
  • 67% discordam - O oceano não tem qualquer relação com o clima global e as condições meteorológicas.
  • 62% discordam - O oceano atualmente está em um estado saudável e equilibrado.
  • 89% concordam - A educação sobre o oceano deve ser parte do currículo escolar.
  • 67% concordam - O oceano tem conexão com condições meteorológicas e climáticas.
  • 85% concordam - O aquecimento das águas do oceano influencia eventos climáticos extremos no continente, como secas, furacões e inundações em cidades e áreas rurais.
  • 51% discordam - Incêndios florestais não têm qualquer relação com condições do oceano.
  • 88% concordam - Eu acredito que o nível do mar está aumentando.
Fonte: Oceano sem Mistérios - A Relação dos Brasileiros com o Mar

De quem é a responsabilidade?

Os brasileiros também foram questionados sobre quem precisa tomar mais medidas para contornar as ameaças ao oceano. Para 69%, o governo/poder público é o responsável imediato. Mas 62% alegam que a sociedade/população em geral também deve fazer a sua parte. O setor privado/empresas (28%), a mídia/imprensa/meios de comunicação (21%) também foram lembrados. 

“Notamos que a conexão da sociedade com o tema está em transformação. Em três anos, a disposição dos brasileiros em mudar hábitos a favor do oceano aumentou 5,4 pontos percentuais. Existe uma clara predisposição para agir de forma mais consciente, mas precisamos estimular ações práticas e disseminar mais conhecimento sobre o assunto”, destaca Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário.

A percepção pública acompanha o que a ciência tem demonstrado. O levantamento indica que a maioria dos brasileiros também reconhece a influência do oceano em fenômenos climáticos que ocorrem longe do litoral. 

“O aquecimento recorde das águas oceânicas entre 2023 e 2024 agravou a seca histórica na Amazônia, por exemplo, aumentando as queimadas não apenas na região amazônica, mas em todos os biomas do país. Em termos climáticos, todos os ecossistemas estão interligados”, explica Ronaldo Christofoletti, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Co-Presidente do Grupo de Especialistas em Cultura Oceânica da UNESCO.

Segundo o pesquisador, essa percepção da população é fundamental, pois o clima global e as condições meteorológicas dependem do oceano, que absorve e distribui calor pelo planeta por meio das correntes marítimas e influencia diretamente a formação de chuvas, frentes frias, furacões e outros eventos climáticos.

Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) mostram que, desde março de 2023, as temperaturas médias das águas oceânicas permaneceram entre 0,5ºC e 0,7ºC acima da média histórica. “É como se o oceano estivesse febril”, exemplifica Christofoletti.

“Os dados reforçam a importância de se promover a aprendizagem e a conscientização sobre o impacto das ações humanas na saúde do oceano, bem como enfatizam a necessidade de se ampliar o conhecimento sobre o papel fundamental do oceano no equilíbrio do planeta”, afirma a diretora e representante da UNESCO no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto. 

Com informações da Fundação Grupo Boticário.

@fundacaogrupoboticario @ unifespoficial @maredeciencia @unescobrasil

Acesse o estudo ‘Oceano sem Mistérios - A Relação dos Brasileiros com o Mar’>>

Fonte: Oceano sem Mistérios - A Relação dos Brasileiros com o Mar

 


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