Negociadores dos 11 países que compõem o Brics concluíram conversas sobre alguns dos temas-chave da 17ª reunião de cúpula do grupo, que será realizada dias 6 e 07/07/2025, no Pier Mauá, no Rio de Janeiro (RJ). As negociações avançaram em pelo menos três áreas importantes para os países: cooperação em saúde para eliminação de doenças socialmente determinadas, inteligência artificial (IA) e combate à mudança do clima.
As resoluções dos sherpas (negociadores dos países) serão encaminhadas para as lideranças políticas e devem resultar em declarações específicas sobre essas pautas.
O Brasil busca, com essa cúpula, que acontece no Rio de Janeiro, "reequilibrar a agenda internacional, frequentemente centrada em disputas geopolíticas, para incluir prioridades como erradicação da pobreza, segurança alimentar e fortalecimento de sistemas de saúde", segundo nota divulgada pela organização da cúpula.
A exemplo da Aliança Global Contra a Fome, lançada pelo Brasil durante o G20 no ano passado, ações voltadas para a área da saúde são vistas como resultados mais concretos que atendem a necessidades mais urgentes da população do Sul Global.
Também foram detectados avanços nas discussões sobre financiamento climático. A ideia é que o Brics se manifeste de forma comum sobre modelos que envolvam a participação de bancos multilaterais, questões regulatórias e mobilização de capital privado.
Por fim, as discussões sobre inteligência artificial giram em torno da busca por uma governança comum para que o recurso tecnológico seja usado de maneira ética, e ajude a minimizar problemas como pobreza, déficits educacionais, mudança do clima e doenças.
Os negociadores também avançaram em outros temas, como institucionalidade e formalização de processos do grupo; a nova escala de presidência rotativa; e a forma de participação dos países parceiros, que com a recente entrada do Vietnã somam dez nações neste status.
A reunião desta semana dos sherpas foi a última para alinhavar negociações para a cúpula. Nas duas reuniões anteriores, realizadas em fevereiro e abril deste ano, já tinham avançado em outros temas, entre eles a Parceria Estratégica na Área Econômica e a incorporação de demandas sociais como o consenso de que o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) deve ser principal agente de financiamento da industrialização do Sul Global.
Pontos mais sensíveis
Autoridades presentes nas negociações enfatizaram os pontos mais sensíveis deste último encontro: os recentes conflitos entre Irã e Israel, a situação na Palestina e a reforma do Conselho de Segurança da ONU. O grupo ainda não conseguiu chegar a um posicionamento comum sobre esses temas, apesar de indicar avanços.
Dentre os três, o mais problemático é o caso do Irã, que é um dos 11 países membros do Brics, ao lado de África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia e Rússia. Os países-parceiros são: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
O Irã pressiona o grupo para que se manifeste de forma mais rígida contra os bombardeios de Israel e Estados Unidos no conflito que ocorreu entre os dias 13 e 24 do mês passado. Países mais próximos dos israelenses e norte-americanos, como Arábia Saudita e Índia, não pretendem se indispor sobre o tema.
O conflito também tem consequências sobre o posicionamento do grupo em relação à Palestina, aliada do Irã. Há aproximadamente 21 meses, a Faixa de Gaza tem sido alvo de bombardeios israelenses, que teriam deixado mais de 50 mil palestinos mortos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
Um quarto motivo de tensão no grupo, que teve efeito sobre os encontros dos sherpas é a situação da Índia. Em maio, durante quatro dias, o país se envolveu em um conflito com o vizinho Paquistão, com uso de mísseis e drones. Apesar do cessar-fogo, a região continua instável.
COP30
As discussões em torno do clima focaram no financiamento climático. Na visão dos países do Sul Global, as nações mais ricas, que mais emitiram gases de efeito estufa, "precisam cooperar no financiamento da transição dos países que ainda não se desenvolveram plenamente".
O Brasil espera ações concretas e ambiciosas em no combate à mudança do clima, uma vez que, em novembro deste ano, sediará, em Belém, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).

O que é o Brics?
O termo Brics nasceu em um estudo de 2001, formulado pelo economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O'Neil, que projetou a crescente importância que Brasil, Rússia, Índia e China teriam na economia e na geopolítica global no Século XXI.
A organização desses países enquanto grupo se deu em 2006. Cinco anos depois, em 2011, o acrônimo ganhou o “s”, de South Africa (África do Sul, em inglês).
O grupo se define como um foro de articulação político-diplomática de países que formam o chamado Sul Global, buscando cooperação internacional e o tratamento multilateral de temas globais.
Além de buscar mais influência e equidade de seus integrantes em instituições como Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brics tem em seu radar a criação de instituições voltadas para seus participantes, como o Novo Banco de Desenvolvimento, chamado de banco do Brics.
Por não ser uma organização internacional, o Brics não tem um orçamento próprio ou secretariado permanente.
Quantos países fazem parte do Brics?
Atualmente, o grupo conta com 11 países-membros e dez países-parceiros.
Países-membros: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia.
Países-parceiros: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
A presidência do Brics é anual e rotativa. Atualmente, ela cabe ao Brasil. O mandato termina em 31 de dezembro de 2025.
Mais de 30 nações já manifestaram interesse em participar do Brics, tanto na qualidade de membros como de parceiros.
39% da economia mundial
Os 11 países representam 39% da economia mundial, 48,5% da população do planeta e 23% do comércio global. Em 2024, países do Brics receberam 36% de tudo exportado pelo Brasil, enquanto compramos desses países 34% do total do que importamos.
Em termos de capacidade energética, o grupo representa 43,6% da produção mundial de petróleo e 36% de gás natural. O Brics detém 72% das reservas mundiais de minerais classificados como terras raras, elementos químicos fundamentais para diversas aplicações tecnológicas, desde eletrônicos até energia renovável.
Com informações da Agência Brasil.
@brics_br
Acesse a página do Brics>>