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#EJA

Educação de jovens e adultos aumenta chances de trabalho formal e melhores salários

Avanços podem significar deixar a informalidade, acessar benefícios trabalhistas e construir uma trajetória profissional mais estável para quem vive em situação de vulnerabilidade

6/09/2025 - 17:59 Por Wilson Lopes

Os estudantes que concluem a Educação de Jovens e Adultos (EJA) têm melhores condições de inserção no mundo do trabalho, com ganhos na formalização e na renda. Entre jovens de 19 a 29 anos, concluir a EJA aumenta em 7 pontos percentuais as chances de conseguir um emprego formal e eleva, em média, 4,5% a renda mensal do trabalho. O impacto é ainda maior para quem tem entre 19 e 24 anos, em que a probabilidade de formalização aumenta para 9,6 pontos percentuais, enquanto a renda mensal aumenta em 7,5%. 

Os números constam na pesquisa ‘Educação de Jovens e Adultos: Acesso, Conclusão e Impactos sobre Empregabilidade e Renda’ publicada pelo Itaú Educação e Trabalho e a Fundação Roberto Marinho.

A análise foi feita a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), no período de 2014 a 2022. O estudo acompanhou os mesmos indivíduos durante cinco visitas consecutivas, em um intervalo de três meses entre cada uma, reunindo informações sobre escolaridade, ocupação e rendimento. 

Em um curto espaço de tempo, pouco mais de um ano, foi possível observar efeitos positivos na empregabilidade e renda, destacando o impacto imediato do diploma de ensino médio obtido pela EJA, na formalização do trabalho e no aumento da renda.

Para quem vive em situação de vulnerabilidade, esses avanços podem significar deixar a informalidade, acessar benefícios trabalhistas e construir uma trajetória profissional mais estável.

Matrículas, permanência na EJA e EJA-EPT 

O Brasil tem 66,6 milhões de pessoas com 15 anos ou mais fora da escola sem concluir a educação básica. Em 2024, o país teve apenas 2,4 milhões de matrículas da EJA, número em queda desde 2007, e mais de mil municípios sem oferta de turmas. Em 2008, eram 4,9 milhões de matrículas na modalidade. 

Uma das estratégias para ampliar as oportunidades é integrar a EJA à Educação Profissional e Tecnológica (EJA-EPT), prevista na Meta 10 do Plano Nacional de Educação, que estipula que 25% das matrículas sejam nessa modalidade. Em 2024, o índice alcançou apenas 5,9%. Embora o número de municípios que oferecem essa integração tenha mais que dobrado nos últimos cinco anos — de 6,3% em 2019 para 13% em 2024 —, a oferta segue muito baixa no país. Ao comparar essa trajetória de crescimento com a EPT articulada ao ensino médio regular (17,2%), os resultados estão bem distantes da estratégia nacional de crescimento. 

Inserida neste cenário, a pesquisa também investigou os determinantes da matrícula, evasão e conclusão na educação de jovens e adultos, com base em dados da PNAD Contínua (2019-2022), observando três perfis: jovens de 15 a 20 anos matriculados no ensino regular; jovens de 21 a 29 anos que se encontravam fora da escola sem ter concluído a educação básica; e pessoas com 21 anos ou mais matriculados na EJA.   

A análise dos perfis revela que, entre os jovens de 15 a 20 anos, a evasão do ensino regular é mais comum do que a migração para a EJA, sendo que o risco de abandonar a escola aumenta com a idade e o atraso escolar (18 a 20 anos), ser homem, negro, residir em área rural, ter baixa renda e estar trabalhando aumentam a chance de evadir ou migrar para EJA. 

Para o público de 21 a 29 anos que não completou a educação básica e estava fora da escola, mulheres e desempregados têm mais chance de se matricular na EJA, enquanto ser responsável pelo domicílio, morar em áreas rurais e estar trabalhando reduzem essa probabilidade. 

Por fim, para os matriculados na EJA (21 a 29 anos e adultos acima de 30 anos), a pesquisa mostra que mulheres com filhos aumentam a probabilidade de evasão, além de outros fatores, como ser mais velho, trabalhar à 20 horas semanais, ser responsável pelo domicílio e residir em áreas rurais. 

Para Diogo Jamra, gerente de Monitoramento, Avaliação, Articulação e Advocacy do Itaú Educação e Trabalho, os dados reforçam a urgência de fortalecimento de políticas públicas que integrem a EJA às necessidades desse público, sendo a conexão com a EPT um dos caminhos. 

“A pesquisa reforça o papel da EJA como caminho de formação para reingressar no sistema educacional e, integrada à EPT, contribui para que jovens concluam os estudos, tenham a possibilidade de agregar conhecimentos para a inserção produtiva digna e tenham perspectivas de melhores condições de trabalho e de vida”. 

Para Rosalina Soares, superintendente de Conhecimento da Fundação Roberto Marinho, o estudo reforça que concluir a EJA gera resultados imediatos e concretos na vida das pessoas. 

“Abre portas para empregos formais, amplia a renda e fortalece perspectivas de futuro. Mas, diante do desafio educacional brasileiro, apenas políticas públicas consistentes e contínuas poderão garantir que a modalidade cumpra seu papel transformador”, afirma.  

Dados do Encceja 2023 revelam que o exame continua sendo buscado majoritariamente por jovens, especialmente para a certificação do ensino médio, e as mulheres são maioria entre os inscritos e grande parte delas é mãe (Prefeitura Rio)

Inscrições e aprovação no Encceja 

A pesquisa também analisou o perfil dos inscritos no Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja) e os participantes com maior probabilidade de obter a certificação. Os dados mostram que o número de inscrições vem caindo nos últimos anos, de 1,6 milhão em 2022 para 900 mil em 2024. No entanto, a taxa de abstenção permanece em patamares elevados em todos os anos analisados. Em 2023, por exemplo, 58% dos 1,2 milhão de candidatos não compareceram à prova.  

Dados do Encceja 2023 revelam que o exame continua sendo buscado majoritariamente por jovens, especialmente para a certificação do ensino médio. Do total de participantes, 83% se inscreveram para o ensino médio e 17% para o fundamental. As mulheres são maioria (56%) entre os inscritos e grande parte delas é mãe (76%). Pessoas negras representam 64% dos inscritos, e quase metade declarou não ter renda ou viver com renda familiar de até um salário mínimo. Apesar disso, 65% dos candidatos exercem algum tipo de atividade.  

Considerando apenas os candidatos que compareceram às provas, a taxa de aprovação ficou em 46% em 2023. A pesquisa indica que quanto menor for a faixa etária, maior a taxa de aprovação; e quanto mais velhos, menor a taxa de aprovação.  

Conforme os pesquisadores, candidatos mais velhos, com menor renda, que trabalham, têm filhos e vivem em áreas rurais apresentam menor probabilidade de obter a certificação. Os homens têm maior probabilidade de passar no exame, especialmente por conta do desempenho em matemática. No total, 54% dos aprovados em todas as provas em 2023 eram homens e 46% mulheres — ainda que elas sejam maioria entre os inscritos. 

Com informações do Itaú Educação e Trabalho.
@itaueducacaoetrabalho @fundacaorobertomarinho

Acesse a pesquisa Educação de Jovens e Adultos: Acesso, Conclusão e Impactos sobre Empregabilidade e Renda>>


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