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Prestação de serviços

Cenário fiscal aponta pior crise da história das prefeituras

Encerramento do exercício de 2024 revela que 54% das prefeituras estão no vermelho e déficit já alcança R$ 33 bilhões

1/06/2025 - 16:20 Por Wilson Lopes

A deterioração fiscal dos municípios chegou ao pior cenário da história, segundo mostra um novo estudo da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Os números parciais do encerramento de exercício apontam 54% no vermelho e deficit de R$ 33 bilhões. 

Descalabro motivado, principalmente, pela crescente necessidade de pessoal para prestação de serviços. Despesas de custeio, contratações de prestadores de serviços, locação de mão de obra, despesas com o funcionalismo e – por último – investimentos em obras e instalações. 

Na avaliação da CNM, apresentada no estudo ‘A situação fiscal de 2024 nos municípios e as perspectivas para 2025’, entre 2023 e 2024, os números eram preocupantes, com 51% dos municípios no vermelho e deficit de R$ 17 bilhões, no final de 2023. Agora, um novo recorde foi registrado e a deterioração é generalizada, afetando os entes municipais independentemente do porte populacional. Além disso, dos 26 Estados, 19 também acumulam déficits primários em 2024. 

O volume de despesas tem crescido à frente das receitas, e o deficit passou de R$ 0,4 bilhão para R$ 5,8 bilhões, nos municípios pequenos; de R$ 2,2 bilhões para R$ 8,4 bilhões, nos municípios de médio porte; e de R$ 12,7 bilhões para R$ 18,5 bilhões nas grandes cidades. 

Ainda que a situação afete todos os portes de municípios, os casos mais graves estão nas localidades populosas, com 65% de deficit; e nos pequenos municípios, com 57% de deficit.

A partir dos dados apresentados no Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO) de 2024, corrigidos pela inflação (IPCA), a CNM tem alertado para efeito deletério do aumento das despesas primárias, puxada pelo custeio da máquina pública, no processo de deterioração das contas públicas. 

A entidade aciona o botão de alerta máximo para os desdobramentos do fenômeno, neste ano, de 2025, e a partir dele, se nenhuma medida for tomada. A crescente vinculação das receitas municipais agrava o atual cenário de crescimento acelerado das despesas públicas.

Fonte: A situação fiscal de 2024 nos Municípios e as perspectivas para 2025

Fenômeno

O presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, chama a atenção para os efeitos da transferência de responsabilidades dos governos federal e estaduais às prefeituras. 

“O funcionalismo público da União e dos Estados cresceu 2,4% e 10,2%, entre 2010 e 2022. E a folha de pagamento dos municípios aumentou 31%, para dar conta das políticas públicas, o número de funcionários passou de 5,8 milhões para 7,6 milhões", alertou.

Ziulkoski tem mostrado que o fenômeno não começou ontem, mas a situação, que já era drástica, nos últimos anos, piorou consideravelmente. A Lei Complementar 173/2020 – de enfrentamento à Covid-19 – congelou as despesas de pessoal e vedou a admissão de pessoal até dezembro de 2021, exceto para reposições. Ficou proibida a concessão de aumentos e reajustes salariais e medidas que levassem à despesa obrigatória acima do IPCA. Como resultado, o aumento da arrecadação no período superou o crescimento das despesas, gerando uma elevação substancial dos recursos em caixa. 

Os responsáveis pelo aumento de despesa pública são as crescentes despesas de custeio, que hoje despontam como a principal despesa municipal (Roberto Oliveira/Prefeitura Picos-PI)

Pós-vigência 

Passada a vigência da lei, foi necessário reaparelhar a máquina pública, contratar servidores e revisar os contratos e as estruturas salariais. Por conta disso, do primeiro para o segundo semestre de 2022, os municípios voltaram a se endividar, e o acúmulo registrado em caixa recuou 63% em um ano, passando de R$ 112,5 bilhões para R$ 41,7 bilhões. Os municípios no vermelho explodiram de 8% para 34%.

Já no primeiro semestre de 2023, as contas públicas apontavam para um déficit de R$ 18,4 bilhões, com 52% dos Entes locais no vermelho. O cenário de piora avança no segundo semestre de 2024, quando a quantidade de prefeituras no vermelho sobe para 54% e o déficit para R$ 32,7 bilhões. Somente entre 2023 e 2024, as despesas superaram as receitas em quase R$ 50 bilhões, e exigiram que os municípios recorressem aos saldos financeiros acumulados durante a pandemia para fechar as contas. 

Considerando os dados de 1,8 mil municípios já enviados à Secretaria do Tesouro Nacional (STN), o primeiro bimestre de 2025 registra deficit acumulado em 12 meses de R$ 16,3 bilhões, superior aos R$ 12,1 bilhões registrados em 2024, mas inferior aos R$ 25,2 bilhões de 2023.

Da Agência CNM de Notícias.
@portalcnm

Acesse o estudo A situação fiscal de 2024 nos Municípios e as perspectivas para 2025>>

 

 


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