domingo, 07 de dezembro de 2025
Logo Agência Cidades
domingo, 07 de dezembro de 2025
Dom, 07 de Dezembro
(62) 99183-3766
Estado paralelo

Nas favelas, 3,1 milhões de pessoas só chegam em casa por moto, bicicleta ou a pé

Brasil conta com 12.348 favelas e comunidades urbanas em 656 municípios, onde vivem 16.390.790 moradores, com limitações de circulação, pavimentação, iluminação pública, transporte público, arborização e rampa para cadeirantes

7/12/2025 - 13:33 Por Pedro Renaux, Claudia Ferreira e Licia Rubinstein, Agência IBGE Notícias.

Nas 12.348 favelas e comunidades urbanas de 656 municípios brasileiros, onde vivem 16.390.790 pessoas, 19,2% delas (3.107.925) moram em trechos de vias onde só é possível a circulação de motocicletas, bicicletas e pedestres. Outros 18,8% dos moradores (3.032.843) vivem em trechos com capacidade para circulação de carro ou van e 62% (10.025.652) moram em domicílios com vias com capacidade máxima de circulação por caminhão, ônibus e veículos de transporte de carga.

Os dados integram o ‘Censo Demográfico 2022 - Favelas e Comunidades Urbanas: Características urbanísticas do entorno dos domicílios’, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os indicadores foram apresentados levando-se em conta o conjunto do país, grandes regiões, estados, municípios, favelas e comunidades urbanas e recortes territoriais. Os quesitos investigados são: Capacidade máxima de circulação da via, Pavimentação da via, Bueiro ou boca de lobo, Iluminação pública, Ponto de ônibus ou van, Sinalização para bicicleta, Calçada ou passeio, Obstáculo na calçada, Rampa para cadeirantes, e Arborização.

O IBGE considera favelas e comunidades urbanas os aglomerados onde há predominância de domicílios com graus diferenciados de insegurança jurídica da posse e pelo menos um dos critérios:

  • Ausência ou oferta incompleta e/ou precária de serviços públicos (...) por parte das instituições competentes 
  • Predomínio de edificações, arruamento e infraestrutura que usualmente são autoproduzidos e/ou se orientam por parâmetros urbanísticos e construtivos distintos dos definidos pelos órgãos públicos 
  • Localização em áreas com restrição à ocupação definidas pela legislação ambiental ou urbanística (...) ou em sítios urbanos caracterizados como áreas de risco ambiental.

Ao todo, o IBGE identificou, no Censo 2022, 6.556.968 domicílios (7,2% dos existentes do país) nas favelas e comunidades urbanas brasileiras, onde residem 8,1% da população do país (16.390.790), mais do que São Paulo/SP, Fortaleza/CE e Salvador/BA juntas (16.298.385).

Entre as 20 favelas mais populosas, Rocinha e Rio das Pedras, ambas no Rio de Janeiro (RJ), e Paraisópolis, em São Paulo (SP), tiveram os mais altos percentuais de moradores vivendo em trechos de vias com capacidade máxima de circulação por moto, bicicleta ou pedestre: 81,9%, 71,5% e 59,2%, respectivamente.

Fonte: Censo Demográfico 2022 - Favelas e comunidades urbanas: características urbanísticas do entorno dos domicílios

Serviço de limpeza

No país, entre os habitantes que viviam em trechos de vias de favelas com capacidade máxima de circulação para caminhão, ônibus e veículos de transporte de carga, 86,6% (8,7 milhões) tinham coleta no domicílio por serviço de limpeza, enquanto 11,1% (1,1 milhão) tinham lixo depositado em caçamba. Fora desses territórios, os percentuais encontrados foram de 92,4% e 7,0%.

As favelas do Centro-Oeste tinham o menor percentual de moradores em trechos de vias com capacidade máxima de circulação para caminhão, ônibus e veículos de transporte de carga e com coleta no domicílio por serviço de limpeza (76,8%), enquanto 19,1% tinham lixo depositado em caçamba e 4,1% possuíam outro destino para o lixo. Fora desses territórios, os percentuais foram de 94,6%, 5,0% e 0,4%, respectivamente.

Quanto aos moradores que residiam em trechos de vias com capacidade máxima de circulação para moto, bicicleta ou pedestre, o Sudeste teve a maior disparidade. Enquanto nas favelas menos da metade (48,6%) dos moradores que viviam em ruas acessíveis apenas a veículos de menor porte tinham lixo coletado diretamente por serviço de limpeza, nas áreas externas a esses territórios, o percentual saltou para 73,3%.

Comunidade da Vila da Barca, erguida em construções de palafitas na baía do rio Guajará, em Belém, no Pará (Tânia Rêgo/ABr)

Trechos sem pavimentação

Em 2022, 78,3% dos moradores de favelas viviam em trechos de vias pavimentados, totalizando 12,7 milhões de pessoas, enquanto 21,7% (3,5 milhões) residiam em trechos sem pavimentação. Fora desses territórios, 91,8% dos habitantes viviam em trechos de vias pavimentadas.

Quase todos os estados tinham percentual menor de moradores em favelas em trechos de vias pavimentados em relação aos moradores que não viviam nesses territórios. As maiores diferenças foram observadas no Distrito Federal (47,8% contra 98,1%), Tocantins (42,4% contra 92,7%), Mato Grosso do Sul (14,6% contra 79,2%) e Roraima (21,8% contra 95,1%). A exceção foi a Bahia (92,1% contra 89,7%)

Entre grandes concentrações urbanas, Campo Grande/MS (12,3%) tinha o menor percentual de moradores em trechos de vias pavimentados nas favelas, onde a diferença em relação às pessoas que não residiam nesses territórios (76,5%) foi a maior (64,2 pontos percentuais). Em São José dos Campos/SP (44,1%), Cuiabá/MT (47,0%) e Brasília/DF (47,5%), menos de 50,0% dos moradores em favelas residiam em trechos de vias pavimentadas. Em valores absolutos, destaque para São Paulo/SP, onde havia 396 mil moradores em favelas em trechos de vias sem pavimentação, seguido por Recife/PE (345 mil), Belém/PA (255 mil) e Rio de Janeiro/RJ (233 mil).

Esgotamento sanitário

No país, 67,3% (8,5 milhões) das pessoas que viviam em trechos de vias pavimentadas em favelas tinham esgotamento sanitário (por rede geral, rede pluvial ou fossa séptica ou fossa filtro ligada à rede). Essa proporção sobe para 83,3% fora de favelas.

A Região Norte apresentou os percentuais mais baixos de pessoas que viviam em domicílios com esgotamento sanitário (por rede geral, rede pluvial ou fossa séptica ou fossa filtro ligada à rede) em trechos de vias pavimentados tanto dentro (40,2%) quanto fora (43,6%) de favelas. Já o Sudeste teve os maiores percentuais de moradores em lares com essas duas infraestruturas, tanto dentro (82,8%), quanto fora (94,7%) desses territórios.

Comunidade conhecida como Tupi City/Jardim Ângela-Sul evidencia permanência do racismo estrutural nas formas de inserção da população negra (Cadu Pinotti/ABr)

Bueiro ou boca de lobo

Menos da metade (45,4%) dos moradores de favelas viviam em trechos de vias com bueiro ou boca de lobo, totalizando 7,3 milhões de pessoas, enquanto 54,6% (8,8 milhões) viviam em trechos sem a presença dessa infraestrutura. Já nas áreas fora de favelas, a proporção sobe para 61,8% de habitantes que viviam em trechos de vias com esse equipamento.

Ao considerar as 20 favelas e comunidades urbanas mais populosas, ressalta-se a Cidade Olímpica, em São Luís (MA), com apenas 16,3% de seus moradores em trechos de vias com bueiro ou boca de lobo, seguida por Coroadinho (17,0%), também em São Luís (MA), Rocinha (25,5%), no Rio de Janeiro (RJ) e Chafik/Macuco (27,9%), em Mauá (SP). Entre as favelas com o maior percentual de moradores residentes em vias com essa estrutura, destaque para Baixadas do Condor (90,2%) e Baixadas da Estrada Nova Jurunas (77,9%), localizadas em Belém (PA), e Zumbi dos Palmares/Nova Luz (77,3%), em Manaus (AM).

As regiões Centro-Oeste (27,9%) e Nordeste (34,9%) tiveram os menores percentuais de moradores de favelas em vias com a presença de bueiro ou boca de lobo, com 11 dos 13 estados com proporção inferior a 40%, sendo que os mais baixos foram observados no Mato Grosso do Sul (6,0%) e Piauí (13,5%). No Norte (51,4%), Amapá (12,6%) e Roraima (19,3%) tiveram os menores percentuais em favelas, com as maiores diferenças em relação aos moradores fora desses territórios (50,3% e 54,4%, respectivamente). Por outro lado, 8 das 27 unidades da federação possuíam mais de 50% de seus moradores de favelas em trechos de vias com a presença de bueiro ou boca de lobo, com destaque para Sergipe (62,5%), Santa Catarina (61,8%), Espírito Santo (59,2%) e Rio de Janeiro (58,9%).

Nas grandes concentrações urbanas, houve baixo percentual de moradores em vias com bueiro ou boca de lobo nas favelas de Campo Grande/MS (7,0%), Teresina/PI (13,4%), São Luís/MA (25,8%) e Brasília/DF (26,2%). Já a diferença entre o percentual de moradores em trechos de vias com bueiro ou boca de lobo dentro e fora desses territórios foi mais acentuada em Campo Grande/MS (7,0% contra 54,4%) e Porto Alegre/RS (44,1% contra 86,1%).

Em valores absolutos, cabe destacar que em São Paulo/SP havia 1,6 milhão de moradores de favelas em trechos de vias sem bueiro ou boca de lobo, seguido por Rio de Janeiro/RJ (694.764), Recife/PE (626.292) e Salvador/BA (607.608), o que indica a carência deste tipo de infraestrutura urbana nestes territórios, assim como a desigualdade em relação às demais áreas das cidades.

Iluminação pública

Nove em cada dez moradores (91,1%) de favelas viviam em trechos de via com iluminação pública, totalizando 14,7 milhões de pessoas, enquanto 8,9% (1,4 milhão) viviam em trechos sem iluminação pública. Nas áreas fora desses territórios, a proporção de pessoas que moravam em trechos de via com esse equipamento urbano é maior (98,5%).

Nas 20 maiores favelas e comunidades urbanas em número de residentes, destaque para a Rocinha – Rio de Janeiro (RJ), que apresentava pouco mais da metade (54,3%) dos seus moradores em trechos de vias com iluminação pública, seguida por Paraisópolis – São Paulo (SP) (66,9%) e Rio das Pedras – Rio de Janeiro (RJ) (89,6%). As demais favelas do top 20 apresentaram percentuais superiores a 90,0%.

Mato Grosso do Sul (51,4%), Amapá (71,6%), Roraima (72,1%) e Distrito Federal (73,1%) apresentaram menos de 75,0% de seus moradores de favelas em trechos de vias com iluminação pública. Por outro lado, 9 estados tinham mais de 95% de seus moradores de favelas em trechos de vias com iluminação pública, com destaque para Maranhão (97,9%) e Ceará, Rio Grande do Norte e Espírito Santo, todos com 97,6%. Em todos os estados, porém, havia um percentual menor de moradores de favelas em trechos de vias com iluminação pública em relação àqueles que não viviam nesses territórios. As maiores discrepâncias estavam no Mato Grosso do Sul (51,4% contra 99,4%), Roraima (72,1% contra 98,8%), Amapá (71,6% contra 96,6%) e no Distrito Federal (73,1% contra 95,4%).

Entre as grandes concentrações urbanas, Campo Grande/MS (48,0%), Sorocaba/SP (68,5%), Brasília/DF (75,9%) e Porto Alegre/RS (80,3%) tiveram os menores percentuais de moradores em trechos de vias com iluminação pública nas favelas. Em valores absolutos, São Paulo/SP tinha 437.765 moradores de favelas em trechos de vias sem iluminação pública, seguida por Rio de Janeiro/RJ (161 mil) e Manaus (85 mil), indicando a carência deste tipo de infraestrutura urbana nesses territórios.

Casas marcadas pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo para serem demolidas na Favela do Moinho no centro da capital paulista (Rovena Rosa/ABr)

Ponto de ônibus ou van

Apenas 5,2% (835.936 pessoas) dos moradores de favelas viviam em trechos de vias com ponto de ônibus ou van. Fora dessas áreas, a proporção de pessoas com disponibilidade dessa infraestrutura urbana no seu trecho de via era mais que o dobro (12,1%).

Entre as 20 favelas e comunidades urbanas mais habitadas, Rio das Pedras - Rio de Janeiro (RJ) e Pernambués - Salvador (BA) tinham apenas 1,9% de seus moradores residindo em trechos de vias com ponto de ônibus ou van. Já Vila São Pedro - São Bernardo do Campo (SP) (12,3%), Colônia Terra Nova - Manaus (AM) (11,2%), Zumbi dos Palmares/Nova Luz - Manaus (AM) (10,6%) e Chafik / Macuco - Mauá (SP) (10,2%) possuíam mais de 10% dos seus moradores nessa condição.

O percentual de moradores em trechos de vias com ponto de ônibus ou van em favelas foi maior do que fora dessas áreas no Tocantins (3,7% contra 2,9%), Acre (9,7% contra 9,1%), Amazonas (5,2% contra 5,0%) e Maranhão (5,6% contra 5,4%). Nos demais estados, a relação foi inversa, com destaque para Minas Gerais (7,9% contra 17,8%), Rio Grande do Sul (7,9% contra 17,6%), São Paulo (6,3% contra 15,2%) e Paraná (5,4% contra 14,2%).

Entre as grandes concentrações urbanas, as maiores diferenças dentro e fora das favelas estão localizadas nas Regiões Sul e Sudeste: Porto Alegre/RS (6,4% contra 19,7%), Belo Horizonte/MG (6,6% contra 18,9%), Florianópolis/SC (7,6% contra 19,1%), Curitiba/PR (5,7% contra 16,5%) e São Paulo/SP (6,2% contra 16,5%).

Com informações da Agência IBGE Notícias.
@agencia.brasil @ibgeoficial

Acesse a publicação Censo Demográfico 2022 - Favelas e comunidades urbanas: características urbanísticas do entorno dos domicílios>>

Acesse a apresentação Censo Demográfico 2022 - Favelas e comunidades urbanas: características urbanísticas do entorno dos domicílios>>

 


 


Deixe seu Comentário