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Brasil: 44.127 MVI em 2024

Taxa de mortes violentas em Maranguape, no Ceará, é 284% superior à média nacional

Cidade mais violenta do país, registrou 79,9 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes, enquanto a média do país somou 20,8

25/07/2025 - 11:44 Por Wilson Lopes

O 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, utilizando dados de 2024, atualizou o ranking dos municípios mais violentos do país, considerando aqueles com população igual ou superior a 100 mil habitantes (são 319 dos 5.569).

O ranking considera o indicador ‘Mortes Violentas Intencionais’ ou MVI, que corresponde à soma das vítimas de homicídio doloso, feminicídio, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenções policiais em serviço e fora (em alguns casos, contabilizadas dentro dos homicídios dolosos). Em resumo, a categoria MVI representa o total de vítimas de mortes violentas com intencionalidade definida de determinado território.

Segundo o Anuário, o Brasil registrou 44.127 MVI em 2024, com taxa de 20,8 por grupo de 100 mil habitantes.

Apesar da tendência nacional de queda, explica o estudo, a violência letal se manifesta de formas bastante distintas entre estados e regiões. O Sudeste, por exemplo, alcançou a menor taxa de sua série histórica, com 13,3 mortes por 100 mil habitantes. Já o Nordeste registrou 33,8 mortes por 100 mil.

Os estados com as maiores taxas de mortalidade foram Amapá (45,1 por 100 mil), Bahia (40,6 por 100 mil), Ceará (37,5 por 100 mil), Pernambuco (36,2 por 100 mil) e Alagoas (35,4 por 100 mil).

Apenas quatro estados registraram aumento na taxa de mortalidade por MVI em 2024: Maranhão (+12,1%), Ceará (+10,9%), São Paulo (+7,5%) e Minas Gerais (+5%). Santa Catarina manteve-se estável, enquanto as demais 22 unidades da Federação apresentaram redução nas taxas de violência letal.

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O Anuário de Segurança Pública apontou que a análise da violência no nível municipal revela dinâmicas muito particulares da violência letal no Brasil. O primeiro dado a ser destacado é que no ranking das dez cidades com maiores taxas de Mortes Violentas Intencionais (MVI), todas são cidades da região Nordeste e estão distribuídas nos estados da Bahia (cinco), Ceará (três) e Pernambuco (duas).

De modo geral, todas as cidades que compõem o ranking apresentam elevados níveis de violência letal associados a disputas entre facções do crime organizado pelo controle do tráfico de drogas. Esses conflitos têm resultado em confrontos sangrentos, com predominância de vítimas jovens, do sexo masculino, por norma negros e moradores de áreas periféricas. 

Por outro lado, chama atenção o papel desempenhado pelas forças policiais nesses contextos. Enquanto nos estados de Pernambuco e Ceará, a participação policial nas MVI é relativamente baixa — em Maranguape, por exemplo, apenas 2% das MVI registradas tiveram envolvimento de agentes do Estado; em Cabo de Santo Agostinho, esse percentual foi de 3% —, os municípios da Bahia apresentam índices significativamente mais altos de letalidade policial. Em Jequié, um em cada três homicídios foi de autoria de policial; em Simões Filho, a proporção foi de um em cada quatro casos.

A cidade mais violenta do país no último ano foi Maranguape (CE), região metropolitana de Fortaleza. Em 2023, o município, que possui pouco mais de 108 mil habitantes, aparecia no oitavo lugar no ranking com o registro de 78 vítimas de MVI. Com crescimento de 11,5% no número de vítimas, a cidade contabilizou 87 mortes em 2024, atingindo taxa de 79,9 mortes por grupo de 100 mil habitantes (índice 284,1% superior à média nacional). Assim como outras cidades do Ceará, o território é palco de uma disputa sangrenta entre duas facções criminosas, o Comando Vermelho (CV) e os Guardiões do Estado (GDE).

Jequié, na Bahia, assumiu o segundo lugar no ranking, com taxa de mortalidade de 77,6 por 100 mil habitantes (Prefeitura de Jequié/BA)

Jequié, na Bahia, antes em terceiro lugar no ranking das cidades mais violentas do país, assumiu o segundo lugar, com taxa de mortalidade de 77,6 por 100 mil habitantes. Embora tenha apresentado uma redução de 2,2% no número de mortes violentas intencionais entre 2023 e 2024, passando de 134 para 131 vítimas, a cidade permanece como uma das mais violentas do país. O município consta ainda do ranking das maiores taxas de letalidade policial: das 131 MVI registradas no último ano, 44 foram provocadas pelas polícias Militar e Civil, ou seja, 1 em cada 3 mortes na cidade foram provocadas por agentes estatais.

O terceiro lugar do ranking é do município de Juazeiro, também na Bahia, que viu o número de mortes violentas intencionais crescer 9,6% no último ano e chegar a 194 vítimas, taxa de 76,2 por 100 mil. Com pouco mais de 250 mil habitantes, Juazeiro fica a mais de 500km de distância da capital e reflete a interiorização da violência que tomou o Estado, em grande medida pela expansão de grupos criminosos. Na cidade atuam ao menos duas facções que operam o narcotráfico, segundo reportagens de imprensa: o Bonde dos Malucos (BDM) e uma dissidência deste grupo intitulada “Honda”.

Na quarta posição entre as cidades mais violentas do país, está Camaçari (BA), localizada na região metropolitana de Salvador. A cidade, que aparecera em segundo lugar no ranking do ano anterior, apresentou redução de 12,1% no número de vítimas de MVI, passando de 272 mortos em 2023 para 239 em 2024. Apesar da melhora, a taxa se mantém elevada, com 74,8 mortes por 100 mil.

Em quinto lugar no ranking está a cidade de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, que assistiu ao número de vítimas de MVI crescer 16,1% e chegar a 159 mortos em 2024. Com taxa de 73,3 mortes por 100 mil habitantes, a cidade do Grande Recife sofre com a atuação de facções atuantes no narcotráfico e é disputada há anos pelo Comando Litoral (antigamente chamado de Trem Bala).

Em sexto lugar, também na Grande Recife, está o município de São Lourenço da Mata, que viu o número de mortes violentas intencionais crescer 24,6% no último ano, chegando a 86 vítimas. A cidade tem figurado em reportagens de imprensa como local de disputas pelo controle do tráfico de drogas.

Em sétimo lugar no ranking das cidades mais violentas do país, está Simões Filho, na Bahia. O município, que figura há anos entre os mais violentos do país, tem sido alvo de disputas entre grupos criminosos como Bonde dos Malucos (BDM) e Comando Vermelho.

Em oitavo e nono lugar, estão municípios cearenses localizados na região metropolitana de Fortaleza. Caucaia, que teve crescimento de 8,9% no número de vítimas de MVI, vem sendo disputado por ao menos três grupos criminosos: o GDE, o Comando Vermelho e os Neutros e/ou Tudo Neutros (TDN), também conhecidos como Massa. O último grupo surgiu como uma dissidência do Comando Vermelho em meados de 2021 e tem se mostrado extremamente violento. 

Em nono lugar está a cidade de Maracanaú, que também sofre com o conflito entre facções criminosas pelo controle do tráfico de drogas e vem sendo objeto de disputas entre o Comando Vermelho e o GDE.

Em décimo lugar, encontra-se a cidade de Feira de Santana, na Bahia, que no ranking anterior ocupava a sexta posição. A cidade apresentou redução de 6,5% no número de vítimas de mortes violentas intencionais, mas segue com taxa elevada, de 65,2 mortes por 100 mil. Em junho deste ano, uma liderança do narcotráfico vinculada à facção Bonde dos Malucos foi presa em São Paulo em uma operação conjunta da FICCO, evidência dos vínculos entre a organização criminosa local e o PCC.

Com informação do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.@forumseguranca @governodoceara @govba @governope @prefeituramaranguape @prefeiturajequie @prefeituradejuazeiro @prefcamacari @prefeituradocabo @prefeitura_slm @prefeituradesimoesfilho @prefeituradecaucaia @prefmaracanau @prefeituradefeira 

Acesse o 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública>>

 


 


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