Em 2024, o Brasil produziu oficialmente 292.459.906,27 litros de cachaça (média de 1,44 litro/habitante, considerando a população de 203.080.756 pessoas – Censo/2022). Este volume representa um aumento de 29,5% em relação ao declarado em 2023 (225.693.404,10 litros).
Os dados são do ‘Anuário da Cachaça 2025’, publicação da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), e mostram um crescimento consecutivo do setor há três anos.
O Ministério ressalta que os dados são extraídos dos estabelecimentos registrados como “produtor ou fabricante, padronizador, envasador ou engarrafador, atacadista ou exportador”, que disponham de instalações, equipamentos e capacidade técnica para a correta execução da atividade, bem como de que ainda “não existe definição legal para estabelecimento elaborador de cachaça artesanal, micro ou nano estabelecimento elaborador”.
Segundo o Anuário, em 2024 o Brasil contava com 1.266 estabelecimentos elaboradores de cachaça, alcançando o número de 7.223 produtos registrados.
Minas Gerais se consolida como a terra da cachaça, com 501 estabelecimentos, o que representa 39,6% das marcas registradas no país. São Paulo (179), Espírito Santo (81), Santa Catarina (73) e Rio de Janeiro (67) completam o ‘top five’.
O estado do Ceará apresentou um crescimento significativo, passando de 34 registros em 2023 para 47 em 2024, o que representa crescimento de 38,2%.
Doze unidades da federação mantiveram em 2024 o mesmo número de estabelecimentos registrados em relação ao ano anterior: Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Espírito Santo, Mato Grosso, Pará, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima e Sergipe.
Amapá e Roraima seguem sendo os únicos estados que não possuem nenhum estabelecimento elaborador de cachaça registrado no Mapa.

Municípios cachaceiros
Em 735 municípios brasileiros, há pelo menos um estabelecimento elaborador de cachaça registrado no Mapa.
Viçosa do Ceará/CE (59.712 habitantes, Censo/2022) superou Salinas/MG (40.178 habitantes, Censo/2022) e se transformou na cidade brasileira com maior número de estabelecimentos produtores de cachaça. O município conta com 25 marcas registradas, o que representa 53,2% dos estabelecimentos legalizados no Ceará.
Na média, o Brasil possui um estabelecimento produtor de cachaça registrado para cada 167.918 habitantes. Mas em Minas Gerais há um estabelecimento para cada 42.560 habitantes.
Mas há 19 municípios onde existe um produtor de cachaça para cada 1.500 ou menos habitantes. É o caso de Lamim/MG (3.184 habitantes, Censo/2022), a cidade com a mais alta densidade cachaceira no Brasil, apresentando um estabelecimento para cada 323 habitantes.
Rio Espera/MG (5.429 habitantes, Censo/2022), que liderava a lista em 2023, encontra-se na segunda colocação com 15 estabelecimentos, o que representa uma densidade cachaceira de um estabelecimento para cada 365 habitantes.
Dos 19 municípios mais bem servidos de cachaça no Brasil, 13 são mineiros, 3 são catarinenses, 2 são gaúchos e 1 capixaba. No outro extremo, a menor densidade cachaceira do país está em Fortaleza/CE, com apenas um estabelecimento elaborador de cachaça registrado para o total de 2.574.412 habitantes.
Com relação à quantidade de registros, Salinas/MG ainda lidera com folga o ranking nacional, possuindo 292 produtos legalizados, o que corresponde a 11,7% de todas as cachaças registradas no estado de Minas Gerais.
Areia/PB (22.633 habitantes, Censo/2022) é a segunda, com 135 registros; seguida de Ivoti/RS (22.983 habitantes, Censo/2022), com 122; Viçosa do Ceará/CE, 93; e Itaverava/MG (5.642 habitantes, Censo/2022), 88.
São 9 municípios com mais de 50 registros de cachaça, sendo 3 de Minas Gerais, 2 do Rio de Janeiro, 1 da Paraíba, 1 do Rio Grande do Sul, 1 do Ceará e 1 de Santa Catarina. Ivoti/RS é o município com maior média de produtos por estabelecimento, apresentando 61 cachaças por estabelecimento registrado.
“O crescimento no número de cachaças registradas mostra como o setor está cada vez mais forte e presente em todo o Brasil. É um reflexo do talento dos nossos produtores e do trabalho do Ministério para apoiar quem faz da cachaça um verdadeiro símbolo nacional. Vamos continuar valorizando essa bebida que é parte da nossa identidade”, destacou o secretário de Defesa Agropecuária, Carlos Goulart.

Made in Brazil
O aumento de quase 30% na produção interna de 2023 para 2024 não foi bem digerido pelo mercado externo. Tanto que a exportação de cachaça em 2024 apresentou queda de 22,7% em volume e de 28,1% em valor em relação ao ano anterior.
No que se refere aos países de destino da cachaça exportada, a queda foi de 2,6%, saindo de 76 mercados em 2023 para 74 mercados em 2024. Apesar da queda, é ainda o segundo melhor resultado dentro do período de estudo, atrás somente de 2022 e 2023.
Para o valor médio do produto, os números demonstram uma desvalorização de 7,2% da cachaça exportada, que em 2023 teve o preço médio de 2,35 US$/l e em 2024 caiu para 2,18 US$/l.
O Paraguai segue sendo o principal mercado externo da cachaça, sendo o destino de 19,7% do produto exportado pelo Brasil em 2024 (1,313 milhões/l). Alemanha (1,223 milhões/l), Estados Unidos (824,091 mil/l), Portugal (660,708 mil/l) e França (508,580 mil/l) completam os cinco primeiros importadores.
Vivendo da cachaça
A atividade de fabricação de bebidas gerou um estoque mensal de 141.596 empregos diretos em 2024. Neste cenário, 4,5% do estoque de empregos da atividade de fabricação de bebidas deve-se à fabricação de aguardente de cana-de-açúcar, o que corresponde a 6.363 empregos diretos.
O Sudeste é a região com maior estoque de empregos mensais, com a marca de 2.954 posições, que corresponde a 46,4% de todos os empregos da fabricação de aguardente de cana-de-açúcar.
“Apesar do cenário extremamente desafiador que o setor segue enfrentado, os dados do Anuário demonstram a resiliência da cadeia produtiva no enfrentamento das barreiras que impedem seu desenvolvimento. São dados extremamente animadores pelo crescimento tanto no número de estabelecimentos elaboradores quanto de registros de produto. No entanto, estão aquém do potencial de um setor, que representa a bebida genuinamente brasileira”, destaca Carlos Lima, presidente do Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), entidade representativa do setor.

Primeira bebida destilada das Américas
Documento dos pesquisadores Rogério Haruo Sakai, Fabio Cesar da Silva e Mariana Lopes de Carvalho, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), usando como fonte informações do professor Jairo Martins, do Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), revela que a história da cachaça remota à época da colonização do Brasil pelos portugueses.
Estima-se que a primeira destilação da cachaça tenha ocorrido em algum engenho de açúcar na costa brasileira, por volta dos anos de 1516 a 1532, conferindo-lhe o título de primeira bebida destilada das Américas.
Para que o produto receba a denominação de cachaça, segundo o Decreto Nº 6.871 (4/06/2009), que dispõe sobre a padronização, a classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas:
Art. 53. Cachaça é a denominação típica e exclusiva da aguardente de cana produzida no Brasil, com graduação alcoólica de trinta e oito a quarenta e oito por cento em volume, a vinte graus Celsius, obtida pela destilação do mosto fermentado do caldo de cana-de-açúcar com características sensoriais peculiares, podendo ser adicionada de açúcares até seis gramas por litro.
§ 1º A cachaça que contiver açúcares em quantidade superior a seis gramas por litro e inferior a trinta gramas por litro será denominada de cachaça adoçada.
§ 2º Será denominada de cachaça envelhecida a bebida que contiver, no mínimo, cinquenta por cento de aguardente de cana envelhecida por período não inferior a um ano, podendo ser adicionada de caramelo para a correção da cor.
Art. 68. Bebida alcoólica mista ou coquetel (cocktail) é a bebida com graduação alcoólica superior a meio e até cinquenta e quatro por cento em volume, a vinte graus Celsius, com a seguinte composição:
§ 5º A bebida prevista no caput, com graduação alcoólica de quinze a trinta e seis por cento em volume, a vinte graus Celsius, elaborada com cachaça, limão e açúcar, poderá ser denominada de caipirinha (bebida típica do Brasil), facultada a adição de água para a padronização da graduação alcoólica e de aditivos.
Exclusivamente do Brasil
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) publicou a Portaria MAPA Nº 539 (26/12/2022), estabelecendo os padrões de identidade e qualidade da aguardente de cana e da cachaça. O padrão foi elaborado a partir de critérios técnicos com Análise de Impacto Regulatório (AIR), considerando as contribuições recebidas pela sociedade.
Segundo a Portaria, a palavra cachaça é uma denominação típica que deve ser usada exclusivamente para aguardente de cana-de-açúcar produzida no Brasil. Deve possuir a graduação alcoólica de 38% e 48% em volume, a 20°C, obtida através da fermentação do mosto de cana-de-açúcar e sua destilação, podendo ser adicionado açúcares. Já a aguardente produzida de cana-de-açúcar deve possuir a graduação alcoólica de 38% e 54% em volume, a 20°C.
A bebida precisa obedecer a parâmetros físico-químicos para estar dentro dos padrões permitidos no Brasil e há obrigatoriedade de seguir também os limites para contaminantes inorgânicos e orgânicos contidos na cachaça.

Dia da Cachaça
Já houve até uma tentativa parlamentar de emplacar no calendário o Dia Nacional da Cachaça, que deveria ser celebrado em 13 de setembro (Projeto de Lei Nº 5.428-B/2009). A iniciativa do Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) foi encampada pelo deputado Valdir Colatto (MDB-SC), que até conseguiu aprovação na Câmara dos Deputados, mas a matéria foi arquivada pelo Plenário do Senado, ao final da legislatura de 2022.
A data fazia alusão à Revolta da Cachaça, movimento popular que levou a rainha Luísa de Gusmão a liberar a produção e a comercialização da bebida no Brasil, em 1661. Mesmo sem a chancela oficial, o Ibrac comemora, desde 2009, com uma boa caninha, a data de 13 de setembro, como o Dia Nacional da Cachaça.
Melhor sorte teve Salinas, com a aprovação da Lei Nº 13.773 (19/12/2018), declarando-a Capital Nacional da Cachaça. O projeto foi de iniciativa da deputada Raquel Muniz (PSD-MG). A cidade ostenta o ‘Museu da Cachaça’ e realiza o ‘Festival Mundial da Cachaça’, duas iniciativas que ressaltam a importância socioeconômica da atividade para a região.
O Governo de Minas, juntamente com a Universidade Federal de Lavras (Ufla) e Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig), instalou o Centro de Referência em Análise de Qualidade de Cachaça (CRAQC), que realiza pesquisas para agregar valor à cachaça de alambique do Estado.
Com informações do Ministério da Agricultura e Pecuária; Agência Minas.
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Acesse o DECRETO Nº 6.871, DE 4 DE JUNHO DE 2009>>
Acesse a PORTARIA MAPA Nº 539, DE 26 DE DEZEMBRO DE 2022>>
Acesse o PROJETO DE LEI N.º 5.428-B, DE 2009 (Do Sr. Valdir Colatto) - Dia Nacional da Cachaça
Acesse a LEI Nº 13.773, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2018 - Confere a Salinas o título de Capital Nacional da Cachaça>>