Todo o trecho do Caminho dos Veadeiros está inserido no bioma cerrado - ASN/GO

O Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) publicou a Portaria 1.321 (14/02/2025) reconhecendo o percurso ‘Caminho dos Veadeiros’ como integrante da Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade - RedeTrilhas.

O percurso foi definido no final de 2018 e conta com 483km para caminhada e duas rotas para cicloturismo, entrecortando os cenários da Serra Geral do Paranã, em Goiás.

O município de Formosa, a 80 quilômetros de Brasília, marca o início da trilha. A cidade também é reconhecida por abrigar o Salto do Itiquira (com 169 metros de altura, a 8ª maior do Brasil) e o Buraco das Araras - Dolina dos Maracanãs (uma caverna com 105 metros de profundidade e 295 metros de largura).

De lá a trilha segue por Planaltina e Água Fria de Goiás. Até adentrar nos municípios de São João d'Aliança, Alto Paraíso de Goiás, Colinas do Sul e Cavalcante, os quatro integrantes da Chapada dos Veadeiros. Todo o caminho está inserido no bioma cerrado.

A caminhada inclui as áreas de proteção ambiental (APA) do Planalto Central e do Pouso Alegre e diversas Reservas Particulares do Patrimônio Natural, além do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

A portaria reconhece o Caminho dos Veadeiros como um importante corredor que conecta pontos de interesse do patrimônio cultural e natural brasileiro, promovendo conservação e geração de renda a partir do turismo sustentável (Silvio Quirino/Goiás Turismo)

Rotas de bicicleta liberadas

Segundo Samuel Schwaida, analista do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e voluntário do projeto Caminho dos Veadeiros, a conquista é resultado de oito anos de trabalho fortemente apoiado no voluntariado para que a trilha pudesse ser acessada de forma democrática por ciclistas e caminhantes.

“A rota de caminhada ainda está em implementação e tem alguns trechos liberados. As duas rotas de bicicleta foram sinalizadas, e já é possível consultar todos os pontos de apoio mapeados e de articulação em todos os municípios. Então, as rotas de bicicleta já podem ser percorridas”, informou Schwaida.

As duas rotas de bicicleta foram sinalizadas e já é possível consultar todos os pontos de apoio mapeados e de articulação em todos os municípios (Silvio Quirino/Goiás Turismo)

Águas do Paraíso

O projeto para estruturar a trilha teve início em 2017, junto com a própria Rede Trilha, uma política pública do MMA, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Ministério do Turismo.

“Dentro dessa ideia de criar uma rede nacional, foram pensadas algumas grandes trilhas no território nacional, dentre, as quais o Caminho dos Goyazes, um projeto que já estava em concepção, e aí foi feita uma conversa com o governo estadual na época para trazer esse Caminho dos Goyazes para dentro da ideia da Rede Nacional de Trilhas”, lembrou Schwaida.

A partir daí, voluntários se organizaram em um grupo de trabalho que deu início à concepção do circuito. “Fizemos alguns estudos de mapa, usando imagens de satélite, dados de uso e cobertura do solo. E aí começamos a montar o quebra-cabeça, fomos descobrindo onde é que já tinha trilha, onde não tinha. A única orientação que a gente tinha era de passar pelo Parque Municipal do Itiquira, em Formosa, e na região da Catarata dos Couros, que hoje é o Parque Estadual Águas do Paraíso, que foi criado nesse meio tempo. E que chegaríamos a São Jorge”, detalhou o analista.

A trilha passa pelo Parque Municipal do Itiquira, em Formosa, e pela região da Catarata dos Couros, que hoje é o Parque Estadual Águas do Paraíso (ASN/GO)

Pegadas amarelas

A trilha começou a ser sinalizada por pegadas amarelas, uma marca desenvolvida pela equipe do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros para marcar a trilha de longo curso dentro da unidade de conservação.

De acordo com Schwaida, o mapeamento de infraestrutura de apoio e sinalização do percurso foi impulsionado, em 2022, pelos projetos Global Environment Facility (GEF) para Áreas Privadas e para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção, GEF Áreas Privadas e GEF Pró-Espécies, instrumentos de conservação e redução de ameaças às espécies consideradas de criticamente em perigo (CR).

Em 2023, os principais atores da sociedade civil envolvidos na implementação do circuito se organizaram na Associação Caminho dos Veadeiros (ACV), instituição responsável pelo diálogo com os órgãos públicos e comunidades, gestão e divulgação das informações relativas ao caminho e pelo manejo da trilha.

Respeito com o meio ambiente

Todo o percurso, trechos para caminhada, mapa e pontos de apoio estão disponíveis nas redes sociais da associação, que traz também recomendações sobre quilometragem diária, atrativos encontrados e orientações sobre alimentação e pernoite.

“A gente tem esse cuidado de orientar também os usuários com relação ao mínimo impacto, ao respeito com o meio ambiente e ao cuidado nas pequenas propriedades. Então, a própria trilha foi planejada para evitar alguns problemas e como uma forma de gerar renda para as pessoas que vivem ali e também de gerar um manejo adequado, por exemplo, dos resíduos, sem causar impacto ambiental”, concluiu Schwaida.

O presidente da Associação Caminho dos Veadeiros, Márcio Chapola Nascimento, explicou que o processo de reconhecimento pelo MMA seguiu o trâmite estabelecido nas Portarias Conjuntas do MMA/MTUR/ICMBIO n°407/2018 e 500/2018. Neste processo, é necessário apresentar uma série de informações como os mapas, características dos trechos que compõem a trilha, relação dos pontos de apoio e atrativos, bem como as unidades de conservação abrangidas e o papel da trilha para formação de corredores ecológicos.

Para Márcio Chapola, a conquista é um reconhecimento da dedicação de dezenas de voluntários e gestores que vem trabalhando pela implementação da trilha. “Um trabalho que não pretende apenas conectar um ponto a outro, mas conectar pessoas e paisagens, valorizar as belezas do cerrado e trazer oportunidades de desenvolvimento sustentável às comunidades rurais abrangidas”, acrescentou.

A trilha percorre os municípios de São João d'Aliança, Alto Paraíso de Goiás, Colinas do Sul e Cavalcante, integrantes da Chapada dos Veadeiros (Silvio Quirino/Goiás Turismo)

Parque Nacional

Criado em 1961, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros está localizado no nordeste do Estado de Goiás, entre os municípios de Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante, Teresina de Goiás, Nova Roma e São João d'Aliança. Protegendo uma área de 240.611ha de cerrado de altitude, abriga espécies e formações vegetais únicas, centenas de nascentes e cursos d’água, rochas com mais de um bilhão de anos, além de paisagens de rara beleza, com feições que se alteram ao longo do ano. 

O Parque também preserva áreas de antigos garimpos, como parte da história local. Além da conservação, o Parque tem como objetivos a pesquisa científica, a educação ambiental e a visitação pública.

Em 2001, o Parque foi declarado Patrimônio Natural da Humanidade pela UNESCO.

Distante 260km de Brasília e 460km de Goiânia, capital de Goiás, a ‘Chapada’, como é carinhosamente chamada, tem sido comparada a cidade de Machu Picchu, no Peru, erguida no alto da Cordilheira dos Andes, por volta de 1420, e abandonada pelo Império Inca, redescoberta somente em 1911.

Tanto a Chapada dos Veadeiros quanto Machu Picchu são cortadas pela linha imaginária do Paralelo 14S do Meridiano de Greenwich. E, por conta dessa semelhança, acredita-se que as duas sejam ligadas ou por túneis de quartzo, ou por um portal que pode levar a outra dimensão. 

Há, inclusive, no Jardim de Maytrea, um vale entre a cidade de Alto Paraíso e o Distrito de São Jorge, uma placa delimitando o local exato do Paralelo 14S.

A RedeTrilhas é composta por percursos reconhecidos pela sua relevância nacional para a conectividade de paisagens e ecossistemas, recreação em contato com a natureza e o turismo (ASN/GO)

RedeTrilhas

A Rede Nacional de Trilhas de Longo Curso e Conectividade (RedeTrilhas) foi instituída pela Portaria Conjunta 407 (19/10/2018), assinada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), do Turismo (MTur) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A Rede tem por objetivos promover as trilhas de longo curso como instrumento de conservação da biodiversidade e conectividade de paisagens, reconhecer e proteger as rotas pedestres e de outros meios não motorizados de interesses natural, histórico e cultural, valorizar o trabalho voluntário e ampliar e diversificar a oferta turística, de modo a estimular o turismo em áreas naturais. 

 Propostas de adesão à RedeTrilhas que já atenderam aos critérios da análise preliminar: 

• Caminho de Cora Coralina (GO)
• Caminho do Corredor Ecológico da Quarta Colônia (RS)
• Caminho do Recôncavo (RJ)
• Caminho dos Veadeiros (GO)
• Caminhos da Baleia Franca    (SC)
• Caminhos das Ararunas (PB)
• Caminhos do Peabiru (PR)
• Caminhos do Planalto Central (DF/GO)
• Rota da Madeira (SP)
• Trilha Amazônia Atlântica (PA)
• Trilha Caminho da Fé (SP /MG)
• Trilha Caminhos da Ibiapaba (CE/PI)
• Trilha Caminhos da Serra do Mar (RJ)
• Trilha Caminhos do Bom Jesus (BA)
• Trilha CoróTur na Trilha das Cachoeiras (MG)
• Trilha da Grande Reserva da Mata Atlântica (SC/PR/SP)
• Trilha do Visgueiro (AL)
• Trilha dos Canyons (RS)
• Trilha Nacional Transmantiqueira (RJ/SP/MG)
• Trilha Rota do Pioneiros (PR/SP/MS)
• Trilha Sucupira (DF)
• Trilha Transcarioca (RJ)

 Análise do Projeto de Implantação: 

• Trilha Transcarioca (RJ) - 12/03/2021
• Caminho de Cora Coralina (GO) - 22/03/2021
• Trilha Sucupira (DF) - 07/06/2021
• Trilha Caminhos da Serra do Mar (RJ) - 01/09/2021
• Trilha Nacional Transmantiqueira (RJ/SP/MG) - 30/11/2021
• Trilha dos Canyons (RS) - 15/12/2021
• Trilha Rota dos Pioneiros (PR/SP/MS) - 29/12/2022

Com informações, Fabíola Sinimbú, Agência Brasil; Agência Estadual de Turismo do Governo de Goiás.

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