Partindo do princípio de que o pensamento criativo é importante para ajudar jovens estudantes a se adaptarem a um mundo de mudanças cada vez mais rápidas, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) dedicou um dos volumes de pesquisas do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) ao tema “Mentes criativas e escolas criativas”.
A proposta é identificar as localidades que apresentam melhores resultados, no sentido de associar pensamento criativo aos currículos escolares. Dessa forma, o estudo vê a formação de cidadãos com capacidade de “pensar fora da caixa em diferentes contextos de tarefas” - em outras palavras, ter “competência para se envolver produtivamente na geração, avaliação e aprimoramento de ideias que possam resultar em soluções originais e eficazes, avanços no conhecimento e expressões impactantes da imaginação”.
Elaborado em 2024 pela OCDE, tendo por base dados obtidos no Pisa 2022, esse ranking avaliou a capacidade dos alunos de 15 anos de pensar criativamente, com competência para se envolver na geração, avaliação e aprimoramento de ideias originais e diversas.
Singapura apresenta estudantes com melhor desempenho em termos de pensamento criativo, em um ranking de 64 países. O país líder do ranking obteve 41 pontos, enquanto a média nos países da OCDE ficou em 33.
No patamar acima da média estão também Coreia e Canadá (ambos com 38 pontos), seguidos de Austrália (37); Nova Zelândia, Estônia e Finlândia (36); Dinamarca, Letônia e Bélgica (35); Polônia e Portugal (34 pontos).
Com 23 pontos, na 49ª posição, o Brasil está “entre os países que apresentaram resultado significativamente abaixo da média da OCDE”, explicou o diretor de Educação e Competências, da OCDE, Andreas Schleicher, durante a divulgação do levantamento pela entidade.
Nível básico de proficiência
Conforme a OCDE, o Brasil integra um grupo de países em condições bastante similares, entre as posições 44 e 53 do ranking. Para a organização, há “grande lacuna de desempenho no pensamento criativo” entre os países que apresentaram os melhores e os piores desempenhos.
Para se ter uma ideia, 97 em cada 100 alunos nos cinco melhores países com melhor classificação tiveram desempenho acima da média dos alunos nos cinco com pior resultado, destacou a OCDE referindo-se à Albânia, às Filipinas, ao Uzbequistão, Marrocos e à República Dominicana – que obtiveram entre 13 e 15 pontos no levantamento.
Segundo a pesquisa, em média, nos países da OCDE, cerca de um em cada dois estudantes consegue pensar em ideias originais e diversas em tarefas simples de imaginação ou em situações de resolução de problemas cotidianos.
“Em Singapura, Letônia, Coreia, Dinamarca, Estônia, Canadá e Austrália, mais de 88% dos estudantes demonstraram nível básico de proficiência em pensamento criativo, o que significa que eles podem ter ideias para uma série de tarefas e começar a sugerir ideias originais para problemas familiares”, detalha o estudo ao acrescentar que a média da OCDE é de 78%.
Nos 20 países e economias que apresentam baixo desempenho, menos de 50% dos estudantes atingiram esse nível básico.
“Percebemos que a excelência acadêmica não é pré-requisito para a excelência no pensamento criativo”, acrescentou Schleicher. De acordo com a pesquisa, aproximadamente metade dos alunos com melhor desempenho em pensamento criativo, teve desempenho de alto nível em matemática.
O levantamento revelou, ainda, diferenças de desempenho quando a comparação é por gênero. “As garotas são mais fortes em termos de pensamento criativo do que os garotos. Isso provavelmente se explica pelo fato de terem mais hábito de leitura”, disse o diretor da OCDE.
“Em nenhum país ou economia os meninos superaram as meninas em pensamento criativo, com as meninas marcando 3 pontos a mais em pensamento criativo, em média, em toda a OCDE. A disparidade de gênero é significativa em todos os países/economias, após contabilizado o desempenho em matemática e em cerca de metade deles, mesmo após contabilizar o desempenho de leitura dos alunos”.
“As diferenças de gênero e socioeconômicas no desempenho persistem em todos os tipos de tarefas. Meninas se apresentaram particularmente melhor do que os meninos em trabalhos de expressão escrita e naquelas que exigem que eles desenvolvam as ideias dos outros. As diferenças socioeconômicas no desempenho são maiores no domínio da expressão escrita”, acrescenta a pesquisa.
Alunos em melhores condições socioeconômicas também apresentaram melhor desempenho no pensamento criativo. Os mais favorecidos obtiveram pontuação média de cerca de 9,5 pontos acima da obtida pelos menos favorecidos em toda a OCDE. “Em geral, a força da associação entre nível socioeconômico e desempenho é mais fraca no pensamento criativo do que em matemática, leitura e ciências”, complementou.
Segundo a OCDE, um fator que pode fazer diferença nas escolas é o uso da pedagogia em salas de aula. Nos países da OCDE, entre 60% e 70% dos estudantes relatam que, além de valorizar a criatividade, seus professores os incentivam a apresentar respostas originais e dão oportunidades para expressar as suas ideias na escola.
Esses alunos obtiveram notas um pouco mais altas do que seus pares no pensamento criativo, mesmo depois de levar em conta suas características e as da escola e seus desempenhos em matemática e leitura.
O estudo também constatou que a participação regular (pelo menos uma vez por semana) de estudantes em atividades como artes, teatro, redação criativa ou aulas de programação resulta em melhor desempenho no pensamento criativo.
Tecnologia usada para lazer
O secretário-geral da OCDE, Mathias Cormann, explica que, em 2022, quase 700.000 estudantes de 81 países, representando 29 milhões em todo o mundo, aderiram ao PISA. Em comparação com 2018, o desempenho médio do exame caiu dez pontos em leitura e quase 15 pontos em matemática, o que equivale a três quartos do valor de um ano de aprendizagem. “Um em cada quatro jovens de 15 anos está, em média, com baixo desempenho em matemática, leitura e ciências nos países da OCDE”, lamenta.
Para Cormann, o declínio só pode ser parcialmente atribuído à pandemia da COVID-19, que impulsionou uma conversão global para a aprendizagem remota possibilitada digitalmente, aumentando os desafios que já haviam surgido, como o uso da tecnologia nas salas de aula.
Segundo os resultados, em média, nos países da OCDE, cerca de três quartos dos estudantes relataram estar confiantes no uso de várias tecnologias, incluindo sistemas de gestão de aprendizagem, plataformas de aprendizagem escolar e vídeo-programas de comunicação. No entanto, observa o secretário-geral, a tecnologia usada para lazer, em vez da instrução, como os celulares, parece estar frequentemente associada a resultados mais fracos.
“Alunos que relataram que se distraem com outros alunos que usam dispositivos digitais em pelo menos algumas aulas de matemática obtiveram 15 pontos a menos que os alunos que relataram que isso nunca ou raramente acontece.”
Por outro lado, pontua Cormann, países como a Coreia e Singapura demonstraram que é possível estabelecer um sistema educativo de alto nível, mesmo partindo de um nível de renda relativamente baixo, priorizando a qualidade do ensino em detrimento do tamanho das turmas e dos mecanismos de financiamento que alinham recursos com necessidades. “O resultado do PISA nada mais é do que um aconselhamento político baseado em evidências para conceber soluções resilientes para construirmos sistemas educacionais eficazes que ajudarão a proporcionar às nossas crianças e adolescentes o melhor futuro possível”, conclui Mathias Cormann.
Por que medir o pensamento criativo?
A criatividade tem impulsionado a inovação na cultura humana e na sociedade há milênios – desde as ciências e tecnologia, até às filosofias, artes e humanidades. Um objetivo fundamental da educação é equipar os indivíduos com as competências de que necessitam para ter sucesso na vida e na sociedade, tanto para o seu próprio bem-estar como para o bem-estar coletivo.
Criatividade, pensamento criativo e inovação estão entre essas competências importantes. O pensamento criativo ajuda a preparar os jovens para se adaptarem a um mundo em rápida mudança que exige flexibilidade e trabalhadores inovadores. Além de preparar os alunos para o mercado de trabalho, o pensamento criativo na educação contribui para desenvolvimento holístico dos alunos – apoia a aprendizagem, a resolução de problemas e as competências metacognitivas através da exploração e descoberta, ajudando os alunos a interpretar informações de maneiras pessoalmente significativas.
O PISA define o pensamento criativo como “a competência para se envolver produtivamente na geração, avaliação e aprimoramento de ideias que possam resultar em soluções originais e eficazes, avanços no conhecimento e expressões impactantes da imaginação”.
Ele se concentra nos processos cognitivos necessários para se envolver no trabalho criativo e está alinhado ao conceito de criatividade – ou seja, uma capacidade maleável que pode ser desenvolvida por meio de prática e que pode ser razoavelmente demonstrado em contextos quotidianos.
Esta definição de pensamento criativo inclui processos cognitivos divergentes (ou seja, a capacidade de gerar diversas ideias criativas) e processos cognitivos convergentes (ou seja, a capacidade de avaliar ideias e identificar melhorias nessas ideias).
Com informações, Pedro Peduzzi, Agência Brasil.
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