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"Professor deve observar se as palavras trazem ensinamento ou provocação"

Instituto Cultiva lança série digital "Os 7 Mitos sobre Paulo Freire" para desmistificar fake news sobre o maior pensador da educação no Brasil

21/09/2024 - 11:27 Por Wilson Lopes

No calor do debate em torno da militarização da educação, aquecido pelo governo anterior que se tornou ator central para a articulação de políticas de incentivo aos princípios militares nas redes estaduais e municipais de ensino (vide decretos 9665 e 10.004/19), o Instituto Cultiva acaba de lançar a série digital “Os 7 Mitos sobre Paulo Freire”.

Paulo Freire é reconhecido mundialmente como um dos maiores pensadores da pedagogia contemporânea e defensor da educação como um ato de liberdade e transformação. No entanto, ainda é alvo de críticas, que distorcem seus ensinamentos e ofuscam seu método de aprendizagem centrado na consciência crítica dos indivíduos. 

Por essa razão, “Os 7 Mitos sobre Paulo Freire” busca desconstruir as inverdades disseminadas sobre sua obra e sua trajetória, por meio de uma análise fundamentada sobre sua importância para a educação.

Muitos citam, poucos leram

“Paulo Freire é um desses autores, muito citados, porém, sem grande profundidade. Algo que acontece com James Joyce e sua obra Ulisses: muitos citam, mas poucos leram”, define o cientista político Rudá Ricci, ex-aluno do educador e hoje presidente do Instituto Cultiva.

Ele explica que o educador era um crítico da chamada “educação bancária”, em que o professor atua como mero transmissor de conhecimento, e o aluno é visto como um receptor passivo, sem voz ou autonomia. “Freire demonstrou que o aprender só é verdadeiro quando compreendemos o significado do que é ensinado, pois, sem isso, a educação se reduz a uma memorização mecânica.”

Conforme Ricci, Paulo Freire entendia que a dimensão política estava na relação do educador com o educando. Ele esclarece que, para o pensador, o educador não deve ensinar ao aluno o que ele deveria ser. 

“Freire dizia que isso é o pior dos educadores ou políticos que querem transformar o mundo e estão a serviço de quem é marginalizado. Dizia: olha, tem muito revolucionário que pensa a revolução para ele ter mais poder, para ele derrubar quem está no poder e ele assumir esse lugar, mas ele não quer transformação. O que eu destacaria é como ele obrigava a gente a ter autocontrole sobre a pulsão do próprio educador, a ânsia do educador, a vontade de mudar de qualquer jeito, no tapa”, salienta.  

Indicadores de desempenho

Rudá Ricci ainda destaca que a educação deve se basear na relação social, não somente na técnica, questionando a validade de indicadores de desempenho como única forma de avaliação do ensino. 

"O Paulo Freire vai dizer que a técnica só tem que estar a serviço da sala de aula quando eu tenho, primeiro, um diagnóstico social do aluno. Se o aluno passa fome, como vai se concentrar em uma conta matemática? Se sofre abuso sexual, como eu vou acolhê-lo para ele estudar geografia? Ele vai dizer: isso é problema do professor, mas não é problema isolado do professor. É problema da secretaria, dos governos, do projeto de política pública do Brasil. Isso significa o quê? Que a escola não se basta e o professor não se basta. Você precisa ter, pelo menos, uma articulação entre a escola, a saúde e a assistência social", acrescenta.

Pela linha de pedagogia freiriana, que tem a humanização e a emancipação como referências, os próprios educadores são transformados. Ricci conta que sai sempre esgotado de qualquer aula, porque fica vigiando suas reações e as de sua turma, enquanto se esforça para encontrar as melhores deixas para dialogar efetivamente com os alunos, com base em trocas genuínas. Além disso, cunhou o termo silêncio tático, capaz de aumentar as possibilidades de diálogo quando o educador contém suas manifestações diante de um aluno que pensa diferente dele, criando um ambiente de confiança. 

Segundo Ricci, Paulo Freire dizia que o educador deve sempre observar as expressões dos alunos durante a aula, o envolvimento deles, se as palavras são entendidas ou não, se as palavras trazem ensinamento ou provocação, se a sala de aula é um espaço para dúvida e se os estudantes estão sendo respeitados. 

"O Paulo falava o tempo todo isso: você não vai negar o que você é ou o que você pensa, mas você tem que saber o momento em que você deve falar o que pensa. Porque, se você falar no momento errado, você humilha o aluno. Porque o educador vai sempre ter autoridade, sempre é diferente do aluno, mas como ele se apresenta é que deve ser democrática", afirma. 

 Confira a lista dos mitos da série do Instituto Cultiva: 

1. Paulo Freire não educa, mas doutrina.
Freire sempre defendeu que o aluno tivesse condições de pensar por si próprio e questionar a realidade.

2. O Brasil adotou o método freireano.
Sua metodologia nunca foi aplicada em âmbito nacional, mas apenas em escolas específicas.

3. Seu método foi responsável pelo aumento do analfabetismo.
Os problemas educacionais no Brasil vêm de outros fatores, como a desigualdade social e a falta de investimentos em educação.

4. Paulo Freire nunca lecionou.
Paulo Freire foi professor de português no Recife e ocupou diversas funções na educação, desde o Sesi até universidades como Harvard e a Unicamp.

5. O método de Paulo Freire é um fracasso.
O método de Paulo Freire é referência na Finlândia, que frequentemente lidera rankings internacionais de educação.

6. Com Paulo Freire o professor perdeu autoridade.
Freire nunca defendeu uma educação sem autoridade, desde que o professor a exercesse de forma democrática.

7. Quem segue Paulo Freire é comunista.
Paulo Freire não só se distanciava da doutrina leninista, como também criticava os revolucionários que não dialogavam com a base social.

Com informações, Letycia Bond, Agência Brasil, e Agência de Notícias Cultiva.

Acesse a série digital “Os 7 Mitos sobre Paulo Freire”>>

@institutocultiva

 


 


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