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Reportagens

Festival Folclórico tira Parintins do ostracismo

Município se transformou no templo da grande festa do Amazonas, Patrimônio Cultural do Brasil

24/04/2024 - 16:03 Por Wilson Lopes

Parintins (96.372 habitantes, Censo/22), município isolado à margem direita do Rio Amazonas, não tem acesso por rodovias, recebe 161 dias de chuva por ano e só viu o termômetro registrar temperatura menor do que 20°C uma vez na vida (19°C em 19/07/75; a média é de 28°C, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia/INMET).

O acesso ao município se dá apenas pelo transporte fluvial e pelo transporte aéreo. O trecho de barco de Parintins/Manaus tem duração de aproximadamente 16 a 19 horas. A viagem de lancha dura cerca de 8 a 10 horas. Os voos domésticos para Manaus saem diariamente e a viagem dura uma hora (foto:Wikipedia)

Assim como Parintins, há outra infinidade de municípios no país que passaria a sua história no completo ostracismo não fosse um simples detalhe: a descoberta de uma vocação, seja ela artística, cultural, patrimonial, gastronômica ou mesmo econômica.

No caso de Parintins, o apogeu ocorreu em 1965, com a criação do Festival Folclórico de Parintins, por um grupo de amigos da Juventude Alegre Católica (JAC), com o objetivo de arrecadar fundos para a construção da Catedral de Nossa Senhora do Carmo, padroeira de Parintins.

Em 1966 os bois-bumbá Caprichoso e Garantido, que já alimentavam rivalidade entre si, foram convidados a participar do festival. O critério estabelecido para definir o campeão foi o boi mais aplaudido pelos presentes. No ano de 1975, a organização do Festival foi assumida pela Prefeitura de Parintins, mudando o local para o Centro Comunitário Esportivo.

Em 1966 os bois-bumbá Caprichoso e Garantido, que já alimentavam rivalidade entre si, foram convidados a participar do festival

Grande festa do Amazonas

A festividade, que traz à arena simbolismos regionais que representam os povos indígenas e o homem ribeirinho nortista, se popularizou e tem atraído pessoas do mundo inteiro para a "Ilha Tupinambarana", nome pelo qual a cidade de Parintins ficou conhecida.

Desde então, o Festival se estruturou e, em 2018, o Complexo Cultural do Boi Bumbá do Médio Amazonas e Parintins foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

As apresentações, que começam na última sexta-feira do mês de junho e vão até o domingo, simbolizam uma disputa a céu aberto entre duas agremiações folclóricas, a do Boi Garantido (vermelho) e a do Boi Caprichoso (azul), que acontece no Centro Cultural de Parintins – mais conhecido como Bumbódromo, com capacidade para 35 mil espectadores.

Segundo a prefeitura do município, cerca de 80 mil turistas do Brasil e do mundo visitam a cidade durante o festival. Nas 56 edições até 2023, o Boi Garantido venceu 32 vezes, contra 25 vezes do Boi Caprichoso.

As apresentações, que começam na última sexta-feira do mês de junho e vão até o domingo, simbolizam uma disputa a céu aberto entre duas agremiações folclóricas

Componentes do festival

O festival possui um total de 21 quesitos (itens), sendo que a maioria não possui ordem predeterminada de apresentação. As exceções são os três primeiros (apresentador, levantador de toadas e marujada ou batucada), além do último (encenação).

Os quesitos são: Apresentador; Levantador de Toadas; Batucada e Marujada; Ritual Indígena; Porta-Estandarte; Amo do Boi; Sinhazinha da Fazenda; Rainha do Folclore; Cunhã-Poranga; Boi Bumbá (evolução); Toada (letra e música); Pajé; Povos Indígenas; Tuxauas; Figura Típica Regional; Alegoria; Lenda Amazônica; Vaqueirada; Galera; Coreografia; e Organização do Conjunto Folclórico.[1]

Música
A música, que acompanha durante todo o tempo, é a toada, acompanhada por um grupo de mais de 400 ritmistas. Os dois bois dançam e cantam por um período de duas horas e meia, com ordem de entrada na arena definida em sorteio. As letras das canções resgatam o passado de mitos e lendas da floresta amazônica. Muitas das toadas incluem também sons da floresta e canto de pássaros.

Ritual
O ritual é o momento máximo da noite. Geralmente, acontece na parte final das apresentações e faz referências a mitos, lendas, tradições ou rituais tipicamente indígenas. E o ritual trazem geralmente o Pajé tanto no Boi Caprichoso quanto no Boi Garantido e às vezes a Cunhã-Poranga.

Auto do boi
O auto do boi mostra o motivo pelo qual surgiu o Festival, com a história de Pai Francisco e Mãe Catirina. Catirina queria a língua do Boi, pois estava grávida. Pai Francisco foi atrás da língua do boi mais bonito da fazenda. Conseguiu e o matou. O Amo do Boi, dono da fazenda, quando soube ficou consternado e mandou trazer o "criminoso" para saber por qual motivo ele fizera tal ato. O Amo mandou ainda trazer médicos para tentar reviver o Boi, mas nada adiantou. Foi então que, com a ajuda dos índios, chegou ao Pajé, que fez reviver o boi do patrão.

Apresentador
Marca o centro do espetáculo, conduzindo o tema com sua voz. Precisa ter afinação, dicção, timbre e técnica de canto.

Levantador de toadas
Após o apresentador, o elemento seguinte é o levantador de toadas, que precede à batucada. Todas as músicas que fazem a trilha sonora das apresentações são interpretadas pelo levantador de toadas. Trata-se de uma figura importante, já que a técnica, a força e a beleza de sua interpretação não só valem pontos como ajudam a revisitar a emoção dos brincantes. 

Amo do boi
O Amo do Boi, com seu jeito caboclo, exalta a originalidade e a tradição do folclore, fazendo soar o berrante e tirando o verso em grande estilo. É a chamada do Boi, que vem para bailar.

Sinhazinha da fazenda
É a filha do dono da fazenda, representa a cultura europeia no boi. Precisa ter graça, desenvoltura, simplicidade, alegria, gingado, saudando o boi e o público.

Figuras típicas regionais e lendas amazônicas
Fazem aflorar os sentimentos de amor e paixão. Alegorias gigantes se movimentam. Coreografias e fantasias originais, com luz teatral e fogos, dão um brilho especial ao espetáculo. Ficção que retrata e ilustra a cultura e o folclore de um povo. Imaginação, envolvimento e encenação são importantes neste item.

Porta-estandarte
Representa o símbolo do Boi em movimento. Ela deverá ter garra, desenvoltura, elegância, alegria e sincronia de movimentos entre o bailado e o estandarte.

Cunhã-poranga
Representa a moça bonita, uma sacerdotisa, guerreira e guardiã. Expressa a força através da beleza. Deve possuir desenvoltura e incorporar a personagem.

Rainha do folclore
Representa a expressão do poder, pela manifestação popular. Deve possuir graça, movimentos com desenvoltura, incorporação, indumentária.

Boi-bumbá evolução
É o símbolo cultural da manifestação popular. É a chegada do Garantido e do Caprichoso, a estrela guardiã da floresta, e o coração da festa, É a evolução do negro da América e do boi do povão, a cênica que deve conter a impressão de um movimento de um, boi real, soltar 'fumaça' pelo nariz que, na verdade, é farinha de trigo e não é obrigatório, mas tem que levantar a galera.

Pajé
O Pajé é o senhor da cênica feitiçaria e representa a cultura indígena na área.

Povos indígenas
Apresentação de um agrupamento nativo da Amazônia. Considera-se: sincronia de movimentos, fidelidade às raízes, cores, expressões cênicas, formas de dançar e movimentos originais.

Galera
A galera dá um show à parte. Enquanto um Boi se apresenta, sua galera participa com todo entusiasmo. Seu desempenho também é julgado. Do outro lado, a galera do contrário (adversário) não se manifesta, ficando no mais absoluto silêncio. Um torcedor jamais fala o nome do outro Boi, e usa apenas a palavra "contrário" quando quer se referir ao opositor. São proibidas vaias, palmas, gritos ou qualquer outra demonstração de expressão quando o adversário se apresenta.

Jurados
Os jurados, em número de nove, são escolhidos nas semanas que precedem o Festival. Todos vêm de estados que façam parte de outras regiões do país, que não a Região Norte. Requisitos estão dispostos em um edital lançado pela organização meses antes, onde pode-se destacar ser estudioso da arte, da cultura e do folclore brasileiro, com mínimo grau de formação de mestre.

Em 2018, o Complexo Cultural do Boi Bumbá do Médio Amazonas e Parintins foi reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN

Com informações, Prefeitura de Parintins, Wikipedia, IPHAN.

Acesse o site do Festival Folclórico de Parintins>

Acesse o site da Prefeitura de Parintins>

@festivaldeparintins_


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